França promete "continuar e fortalecer" entrega de armas a Kiev
A diplomacia francesa assegurou hoje que "continuará e fortalecerá" as entregas de armas à Ucrânia, apesar das críticas a Paris por parte de Moscovo.
A nova ministra dos Negócios Estrangeiros francesa, Catherine Colona, que se encontra de visita a Kiev, informou hoje que o Presidente Emmanuel Macron "comunicou ao Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a decisão de continuar e até fortalecer o apoio militar" à Ucrânia.
No final de abril, Macron já tinha anunciado o envio de equipamentos militares para Kiev, em particular os sistemas de artilharia Caesar, apesar dos protestos de Moscovo sobre a atitude "militarista" de Paris.
"Estas armas provaram ser fiáveis e eficazes. Mas não são as únicas armas que chegam da França e por cada arma estamos gratos", respondeu o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, numa conferência de imprensa conjunta com Colona.
A chefe da diplomacia francesa informou que outras entregas de equipamento militar poderão ocorrer nas "próximas semanas", estimando em quase dois mil milhões de euros o valor total da ajuda de França, tanto militar quanto humanitária.
"O nosso compromisso é forte em fornecer equipamentos de defesa à Ucrânia", acrescentou a ministra francesa, sublinhando que "a França não está em guerra com a Rússia".
No domingo, durante uma entrevista transmitida pelo canal de televisão francês TF1, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, acusou a França de estar a "armar ativamente a Ucrânia, inclusivamente com armas ofensivas", apesar da "boa relação de confiança que existe entre o Presidente Macron e o Presidente Putin".
Hoje, na visita a Kiev, Colona discutiu ainda o "legítimo pedido" de adesão da Ucrânia à União Europeia (UE), considerando que a França, que detém a Presidência do Conselho da UE, é "favorável à aproximação da Ucrânia", mesmo na versão "acelerada", bem como à abertura de "caminhos de solidariedade e de caminhos de cooperação".
No início de maio, Macron tinha proposto que, de forma mais imediata, Kiev se juntasse a uma "comunidade política europeia", argumentando que a adesão à UE pode demorar até décadas.
No passado dia 21, Zelensky respondeu que "não há alternativa" à candidatura da Ucrânia à UE, mostrando-se empenhado em ajudar os países da comunidade a encontrar uma solução para uma rápida integração.
Na Ucrânia, Colonna esteve também hoje em Bucha, nos arredores de Kiev, onde ocorreram massacres de civis, pelos quais as autoridades ucranianas acusam as tropas invasoras russas.
Após a partida desta localidade dos soldados russos, no final de março, e a descoberta de centenas de corpos de civis ucranianos, Bucha tornou-se o símbolo dos crimes de guerra atribuídos à Rússia pela Ucrânia.
"Não deve acontecer, não deve acontecer de novo", declarou a chefe da diplomacia francesa depois de visitar uma igreja ortodoxa com paredes brancas, onde estavam expostas fotografias dos massacres.
A ONU confirmou hoje que 4.074 civis morreram e 4.826 ficaram feridos até agora na guerra, que dura há mais de três meses, admitindo que os números reais poderão ser muito superiores.
"A França está ao vosso lado (dos ucranianos) com os vossos amigos, os vossos aliados, tudo fará para trazer a paz de volta", prometeu a ministra francesa, a mais alta representante do país a visitar a Ucrânia desde o inicio da guerra.
Catherine Colonna referiu-se à contribuição da França para a investigação destes alegados crimes de guerra, uma vez que técnicos franceses foram enviados para estabelecer um procedimento para examinar e identificar os corpos, trabalhando ao lado de investigadores ucranianos.
Só "o resultado da investigação" conduzida pelas autoridades ucranianas permitirá estabelecer a identidade dos responsáveis por estes abusos", disse Colonna.
A ministra vai ainda discutir com o governo de Kiev o bloqueio das exportações de cereais e oleaginosas da Ucrânia, "que levanta riscos reais de insegurança alimentar", refere um comunicado do governo francês.
A Rússia lançou uma ofensiva militar na Ucrânia a 24 de fevereiro que foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com ajuda financeira e o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição a Moscovo de sanções políticas e económicas sem precedentes.