Ser ou não ser Neandertal
“Aquele tipo é mesmo um Neandertal!”. Esta frase, relativamente comum, tem o propósito de caracterizar o destinatário como um ser primário, bruto e limitado. Os neandertais têm, portanto, má fama, alimentada por conceitos antigos repetidos na cultura popular e nalgumas séries e filmes. Mas seriam os neandertais assim tão pouco desenvolvidos? As últimas décadas de investigação permitem-nos conhecer melhor esta espécie. Foi em 1856 que se encontrou o primeiro esqueleto na pedreira no vale de Neander, na Alemanha. Foi por isso que geólogo William King cunhou o nome Homo neandertalensis. O preconceito instalou-se logo no séc. XIX com a noção popularizada que os neandertais eram desajeitados e afastados da suposta “perfeição” que seria o homem branco europeu. É verdade que os traços neandertais são distintos dos nossos. Eram, por exemplo, mais robustos, mais baixos e com crânios mais compridos e achatados.
Há, claro, algumas semelhanças anatómicas. Isto porque se estima que os humanos modernos e os neandertais divergiram de um possível antepassado comum há cerca de 370 000 anos. Mas a época áurea dos neandertais foi há 100 mil anos. Nessa altura expandiram-se pelo Médio Oriente e talvez até ao Pacífico. Sabemos que fabricavam utensílios e tinham estratégias comunitárias para caçar grandes animais. Estudos recentes comprovaram que, afinal, eram omnívoros. Comiam, para além da carne, vegetais que cozinhavam pois dominavam o fogo. Talvez devido a fenómenos de intercâmbio cultural com o Homo sapiens começaram a tratar os mortos de forma mais complexa, talvez com funerais ou outras cerimónias. Os arqueólogos descobriram também a presença de colares que podiam ser apenas adornos, mas podem remeter para algum pensamento simbólico. Há, portanto, ainda mistérios por esclarecer. Um deles é sobre como e porque desapareceram. É que os últimos neandertais viveram no Sul da Península Ibérica até há 33 mil anos e depois deu-se a sua extinção. Há quem defenda que tal se deveu à competição com os humanos modernos. Outros referem que novos agentes patogénicos foram a causa. Talvez tenham sido muitos factores. O que sabemos é que vale a pena conhecer mais sobre os neandertais. Para o leitor mais curioso sugiro o livro “O Homem de Neandertal” de Svante Pääbo e a terceira edição da revista História da National Geopraphic.
E, já sabe, na próxima vez que ouvir algo como “Aquele parece um Neandertal” pense bem sobre quem está verdadeiramente a ser insultado.