A Guerra País

PS rejeita saída de vereadores em Setúbal para fazer cair Câmara

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O vereador do PS em Setúbal Fernando José rejeitou hoje a possibilidade de os socialistas renunciarem aos cargos na Câmara para fazerem cair o executivo comunista, dizendo que cabe ao presidente da autarquia concluir se tem condições para continuar.

Fernando José disse à Lusa que "neste momento, com a informação e os dados" que se conhecem sobre o acolhimento de refugiados ucranianos pelos serviços municipais, "não existem motivos para exigir a demissão" do presidente da Câmara de Setúbal, André Martins, e que "terá de ser ele" e o Partido Comunista a tirarem as consequências deste caso e a concluir se o autarca tem condições para continuar no cargo, para o qual, sublinhou o socialista, foi eleito legitimamente, em eleições "livres e democráticas".

Em paralelo, Fernando José afirmou também não ver motivo para os vereadores do PS renunciarem aos cargos para que foram eleitos.

O PSD de Setúbal apelou hoje à demissão dos eleitos da CDU na Câmara, devido ao acolhimento de ucranianos, e defendeu a renúncia da oposição (PS e PSD) se os comunistas não saírem, para fazer cair o executivo municipal.

"Quem tem a responsabilidade deve assumi-la. Há 'linhas vermelhas' que não devem ser ultrapassadas. Sabemos, no entanto, que as responsabilidades políticas, muitas das vezes, não são assumidas. Para que este não seja mais um desses casos, o PSD lança o repto ao Partido Socialista para que estes dois partidos da oposição, maioritários na Câmara Municipal de Setúbal, renunciem caso o executivo comunista não o faça", defenderam os sociais-democratas, em comunicado.

"A palavra deve voltar a ser dada aos setubalenses", considerou o PSD.

O executivo da Câmara Municipal de Setúbal é liderado por uma maioria relativa da CDU, que tem cinco eleitos. Os dois partidos da oposição têm seis vereadores, quatro do PS e dois do PSD.

Em declarações à Lusa, o vereador do PS Fernando José salientou que os socialistas "não pedem a demissão de ninguém e não se vão demitir", seguindo "a premissa de que os mandatos são para cumprir", em respeito pela escolha dos eleitores.

Isto apesar de, acrescentou, estar em causa "uma trapalhada", por que é responsável o presidente da Câmara e o vereador da CDU com a tutela do acolhimento dos refugiados, e que podia ter sido evitada se André Martins tivesse ouvido os alertas da oposição, numa reunião de 20 de abril, e tivesse tido "a humildade" de reconhecer "o erro de avaliação", "a insensibilidade" e "a incompetência" que foi colocar dois russos a acolher refugiados da Ucrânia, especialmente, Igor Khashin, com quem a autarquia trabalha há anos e tem ligações ao regime de Vladimir Putin.

André Martins optou, porém, pela "arrogância política", preferiu "assobiar para o lado" e "nada fez", afirmou Fernando José, que sublinhou que, entretanto, surgiram outras notícias, que dão conta de outras questões relacionadas com o acolhimento de ucranianos pela autarquia e com a garantia da proteção de dados pessoais, não havendo neste momento qualquer certeza sobre o cumprimento da lei.

Para o vereador do PS, neste momento, é precisar esperar que a Comissão Nacional de Proteção de Dados e a Inspeção Geral das Finanças, que estão a analisar o caso, "façam o seu trabalho" e apresentem conclusões.

Para já, aos socialistas cabe "condenar, denunciar e exigir inquéritos", acrescentou, reiterando por diversas vezes que não é o momento para exigir demissões.

Na segunda-feira, em declarações à Lusa, Fernando José já tinha acusado André Martins de conhecer as ligações ao Kremlin de Igor Khashin, uma das pessoas escolhidas pela autarquia para a receção aos refugiados da guerra na Ucrânia, iniciada com a invasão da Rússia em 24 de fevereiro. 

Fernando José recordou que, "não há muito tempo, responsáveis da Câmara de Setúbal tiveram uma reunião com o senhor Igor, enquanto representante da Rússia em Portugal, no sentido de trazer investimentos para a cidade".

De acordo com o jornal Expresso, refugiados ucranianos foram recebidos na Câmara de Setúbal por dois cidadãos de origem russa, Igor Khashin, da associação Edinstvo, subsidiada pela autarquia desde 2005 e que recebeu apoios financeiros de quase 90 mil euros nos últimos três anos, e a mulher, Yulia Khashina, funcionária do município.

Segundo o Expresso, Igor Khashin e Yulia Khashina terão, alegadamente, fotocopiado documentos de identificação dos refugiados, além de terem feito perguntas sobre o paradeiro de familiares que deixaram na Ucrânia, à margem do que estará previsto nestes casos.