Montenegro, de tribuno nos tempos da 'troika' a 19.º presidente do PSD
O antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro tornou-se hoje o 19.º presidente do partido, sucedendo a Rui Rio, de quem foi o principal desafiador ao longo do mandato, com tréguas em vésperas de legislativas.
De acordo com os resultados provisórios hoje anunciados, Montenegro conseguiu cerca de 73% dos votos, contra 27% do outro candidato, o antigo vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva.
Esta foi a segunda vez que Luís Montenegro concorreu à presidência do PSD: em janeiro de 2020, nas primeiras eleições diretas a que se candidatou, o antigo líder parlamentar do PSD obrigou Rui Rio a uma inédita segunda volta no partido (Miguel Pinto Luz foi o terceiro candidato que ficou pela primeira volta, com cerca de 9,5% dos votos) e conseguiu 47% do partido.
Na noite da derrota, em 18 de janeiro de 2020, o antigo deputado avisou logo que não valia a pena anunciarem a sua morte política, considerando que essa notícia seria "manifestamente exagerada", mas manteve-se discreto na sua intervenção política nos dois anos seguintes.
Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, 49 anos, nasceu no Porto, mas viveu sempre em Espinho (Aveiro) e é advogado de profissão.
Montenegro estreou-se no parlamento aos 29 anos, em 2002, quando Durão Barroso era presidente do PSD e primeiro-ministro, depois de ter iniciado uma carreira política que começou na JSD e passou pela Câmara Municipal de Espinho, onde foi vereador.
Nas autárquicas de 2005, candidatou-se a presidente do município, mas foi derrotado por José Mota, do PS.
Depois de ter sido 'vice' da bancada na direção de Miguel Macedo, foi eleito líder parlamentar após a vitória de Pedro Passos Coelho nas legislativas, em junho de 2011.
Mantém-se no cargo até 2017, tornando-se o líder parlamentar com maior longevidade no PSD, e foi no período da 'troika' - em janeiro de 2014 - que disse que "a vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor", frase que lhe viria a merecer muitas críticas.
Nas disputas internas no PSD, Luís Montenegro foi tendo opções diferentes: nas diretas de 2007, entre Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, foi mandatário distrital do ex-autarca de Gaia; um ano depois, assumiu o lugar de porta-voz da candidatura à liderança de Pedro Santana Lopes, contra Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho; já em 2010 apoiou Passos Coelho, contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco; em 2018, apoiou Santana Lopes contra Rui Rio já na reta final da campanha interna, e em 2021, no próprio dia das diretas, escusou-se a revelar publicamente em quem votaria, na disputa entre Rui Rio e Paulo Rangel.
No final de 2017, chegou a ponderar uma candidatura à liderança do partido, quando Pedro Passos Coelho anunciou que não se recandidataria, mas acabou por concluir que não estavam reunidas as condições para avançar "por razões pessoais e políticas".
Mas, logo em fevereiro de 2018, no Congresso de aclamação de Rio, Montenegro deixou o aviso de que poderia vir a disputar-lhe o lugar: "Desta vez decidi não, se algum dia entender dizer sim, já sabem que não vou pedir licença a ninguém".
Tal como anunciou nesse Congresso, Luís Montenegro deixaria o parlamento em abril de 2018, 16 anos depois de tomar posse como deputado, e foi expressando pontualmente as suas divergências com a direção de Rui Rio.
Em janeiro de 2019, desafiou Rui Rio a convocar eleições antecipadas no partido, dizendo que não se resignava "a um PSD pequeno, perdedor, irrelevante, sem importância política e relevância estratégica".
O presidente do PSD não aceitou o repto para marcar diretas um ano antes do previsto, mas levou a votos uma moção de confiança à direção, que foi aprovada em Conselho Nacional com 60% dos votos.
Depois dessa derrota interna, terminou as colaborações regulares com órgãos de comunicação social e, segundo noticiou o Expresso, frequentou no verão um programa de gestão avançada para executivos e líderes do Instituto Europeu para Administração de Empresas em França, mantendo-se praticamente em silêncio na vida política.
Nas autárquicas de setembro de 2021 teve participações pontuais, mas longe do presidente do PSD, e não quis entrar na corrida à liderança nas eleições diretas que se seguiram, e que acabaram por ser disputadas entre Rio e o eurodeputado Paulo Rangel e ganhas pelo antigo presidente da Câmara do Porto.
Na campanha para as legislativas de 30 de janeiro, apareceu ao lado de Rui Rio em iniciativas no distrito de Aveiro, manifestando-se confiante de que a vitória do PSD era possível e recusando falar, na altura, em sucessão.
Casado e com dois filhos, o desporto foi uma paixão de juventude, tendo jogado futebol e voleibol de praia - também foi nadador-salvador -, e atualmente pratica golfe.
Na campanha interna de 2020, foi, tal como o seu adversário Rui Rio, ao programa das manhãs da SIC, onde contou à apresentadora Cristina Ferreira que a sua alcunha de infância era 'Ervilha' - por ser "redondinho" e ter olhos verdes - e no qual fez um dueto com Tony Carreira a cantar o "Sonhos de Menino", garantindo que liderar o PSD não estava entre eles.
A sua alegada pertença à mesma loja maçónica do ex-diretor dos serviços de informação Jorge Silva Carvalho -- na anterior campanha interna negou alguma vez ter pertencido à maçonaria -- e as faltas parlamentares para assistir a jogos do FC Porto, clube do qual é adepto, e da seleção nacional foram algumas das polémicas que viveu na Assembleia da República.
Em junho de 2019, Luís Montenegro foi constituído arguido -- a par dos então deputados Hugo Soares e Luís Campos Ferreira -- por alegado recebimento indevido de vantagem no caso das viagens do Euro 2016, tendo negado então a prática de qualquer crime e garantido que as viagens foram pagas a expensas próprias, num processo entretanto arquivado.