Análise

A retoma dos bons hábitos

Há hábitos decisivos num mundo globalizado e altamente mediatizado, que exigem muito dos decisores públicos. Por exemplo, prudência na comunicação. Convenhamos que, sem explicações prévias e claras, lançar um projecto de implementação de meios de pagamento electrónico na Região, que não dependam da banca tradicional, admitindo estar em curso um estudo à moeda electrónica, num contexto em que o próprio Governo foi a Miami descobrir os encantos das criptomoedas e em que surgiu na ilha a hipótese ‘Osean’, é contribuir desnecessariamente para o ruído de que as oposições se alimentam e correr, mais uma vez, atrás do prejuízo. Vá lá que Miguel Albuquerque se apressou a desfazer equívocos num episódio passível de confundir os impreparados e apanhar muita gente desprevenida. Exige-se também pacto com a transparência, de modo a facilitar o escrutínio da gestão dos dinheiros públicos e perceber o rumo colectivo em termos de sustentabilidade. Não custa nada mostrar para onde vai o dinheiro que nos chega da Europa fomentadora de desenvolvimento e de coesão. Um propósito alcançado no encontro anual realizado sexta-feira destinado a dar o conhecer a aplicação dos investimentos realizados na Região com financiamento comunitário, do PO MADEIRA 14-20 e do POSEUR. Numa altura em que os milhões do PRR começam a ser injectados no País, importar andar de olho na ‘bazuca’ antes que a arte de sumir ganhe lastro. Exige-se flexibilidade na negociação, sem perder de vista foco naquilo que é decisivo para as populações. Saúdam-se por isso os avanços civilizacionais presentes no relacionamento institucional da Região com o Governo da República, que está agora “num novo ciclo, muito bom”. A garantia voltou a ser dada por Miguel Albuquerque que reafirmou "toda a disponibilidade" do primeiro-ministro para resolver os dossiers pendentes. Com menos contenciosos, muitos deles incompreensíveis e atentatórios dos superiores interesses da Madeira, os resultados são evidentes e estão plasmados no OE que, por sinal, os deputados do PSD-M não chumbaram, mesmo que o documento pareça imune à inflação, já que não actualiza salários e reformas.

O voto desalinhado de Sérgio Marques, Sara Madruga da Costa e Patrícia Dantas não respeita a disciplina do partido moribundo e sem sinais de esperança, apesar de ter desde ontem novo líder. Mas acima de tudo comprova que há quem honre a palavra dada, compromisso a que não é alheio o esforço negocial empenhado do socialista Carlos Pereira e seus pares em São Bento. Uns e outros garantiram a prorrogação do prazo de emissão de licenças para novas empresas no CINM, a aplicação do imposto especial sobre o consumo de álcool inferior à taxa normal quando está em causa rum e licores e a criação de uma comissão técnica para definir o modelo de imputação adequado das receitas fiscais aos vários territórios.

Exige-se abertura ao mundo para melhor percebermos realidades que não dominamos. A relação de proximidade entre a Madeira e os Estados Unidos até pode ser motivo de gozo, mas é útil no contexto actual. Quanto mais não seja porque número de residentes dos EUA em Portugal aumentou 45% no ano passado e quase triplicou na última década. E segundo um artigo do The Wall Street Journal, a segurança, o baixo custo de vida, a saúde, o clima, os incentivos fiscais e o facto do visto de residência em Portugal exigir menos renda explicam a opção americana. Face ao aumento da procura, também de turistas, importa não confundir hospitalidade com hostilidade.