Pressão turística
Tenho lido e ouvido vários comentários sobre este tema dos especialistas em tergiversar aqui do burgo pelo que me atrevo a deixar o meu contributo, na esperança de que possamos discuti-lo convenientemente.
Não, ninguém está a queixar-se de ter muitos clientes, nem a reclamar porque a coisa está agora a correr melhor! E não, também não me move a crítica pela crítica; antes preocupa-me o meu futuro e o da indústria onde trabalho.
Partamos de dados estatísticos que, não sendo exactos, são base suficiente para se calhar nos ajudar a perceber melhor este fenómeno. No último ano “normal” - 2019 - o destino cresceu cerca de 15% a sua oferta de camas e decresceu sensivelmente 9% no número de dormidas. A restauração de rua também aumentou de forma significativa e só o comércio não terá apresentado crescimento.
Depois de dois anos bons (sim, foram só dois anos), toca de permitir aumentar o número de camas, sem cuidar de perceber que nenhum destino aguenta, sem a necessária preparação, crescer a este nível sem consequências. O POT permite-o e os outros planos só falam de tectos, nunca de taxas de crescimento anuais acomodáveis, portanto...
A malta que dá importância ao planeamento, à estratégia e a essas coisas tontas, bem tinha avisado. Não estávamos preparados a nível nenhum e nem questões evidentes como o plano de contingência do aeroporto se foi tratado, nesta pausa forçada de dois anos de Covid.
Agora, qual é a discussão, para além do que acima referimos? Devem as levadas ser ou não pagas? E os miradouros? Dá para resolver alguma coisa com tecnologia? E recursos humanos, que não se encontra em número suficiente? Mais formação, resolve? E aquela gente toda no mercado? Nem falo do disparate do aumento do Porto do Funchal porque o que tenho para gastar em caracteres sobre esse tema não cabe aqui!
É aborrecido, tendo tantas vezes falado sobre tudo isto, ver o que está a suceder, mas o meu ponto não é esse. Num enquadramento onde, por força deste aumento de procura, conseguimos vender o mesmo (porque o destino não melhorou em nada!) a preços mais altos, qual acham que vai ser a consequência quando a experiência que proporcionamos é a de trânsito nas levadas, falta de pessoal qualificado nos hotéis, ruas apinhadas de gente e barcos atracados uns em cima dos outros?
Não sendo nada disto novidade, ao menos que se evite a tal conversa em que parece que somos um bando de pobres e mal-agradecidos em face deste maná de gente aos magotes.
Se estivessem interessados, podia partilhar o que já começa a ser dito por alguns dos nossos clientes, muito mais relevante do que os prémios tipo telexfree que tanto tempo e esforço nos consomem. Esses, os tais clientes, não voltarão!