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Os melhores amigos

Numa era onde, diariamente, consumimos uma grande quantidade de conteúdo digital, é

interessante tentar perceber a imensa máquina que está por detrás das nossas pesquisas

super personalizadas e das sugestões prontas à nossa medida no mundo virtual.

Perceber como é que a cada procura, a cada palavra, a cada novo assunto a máquina

ajusta sugestões exactas e à nossa medida.

Os responsáveis da máquina: os algoritmos. Sequências de comandos, operações e

cálculos de probabilidades inteligentes que nos ficam a conhecer melhor que os nossos

pais. Uma espécie de melhores amigos estilo Doutor Sabe-Tudo, a quem nada lhes escapa.

Nunca repararam como muitas vezes estamos simplesmente a conversar sobre um

qualquer produto e, este milagrosamente aparece-nos publicitado num inusitado banner

online? Como assim?

Pois, não estamos a falar apenas de pesquisa escrita, alguém ou alguma coisa nos está a

ouvir. Não são só registos de busca e similaridades de hábito. Qualquer página ou aplicação

móvel utiliza os nossos amigos algoritmos para otimizarem conteúdo, publicidade à nossa

medida e, no fundo, ficarem a conhecer-nos melhor.

Estes “ouvem” qualquer palavra-chave e tentam relacionar e direcionar-nos conteúdo nesse

sentido. Não é espionagem, é como se estivessem muito preocupados connosco.

Os algoritmos sabem realmente tudo sobre nós. Sabem que pessoas gostamos mais de

seguir, que sítios gostávamos de visitar, que comida mais nos faz salivar e o quão

hipocondríacos somos quando nos dói a garganta ou nos incha um joelho. Sabem mais até

que aquela vizinha bilhardeira.

É que neste mapa virtual de maneiras e manias não existem spoiler-alerts, eles sabem

sempre o que aconteceu a tempo e horas, sem grande erro. Podem não saber a data da

nossa morte, mas acredito que têm um bom palpite.

Eles sabem muito mesmo, mas por vezes a sua atenção parece sair furada, é que basta

pormos a tocar uma bela pimbalhada no Spotify ou assistir a uma série lamechas na Netflix

que está entornado o caldo. Eles acreditam que gostamos mesmo daquilo - que somos

assim - e começam a sugerir-nos mais folia e choradeira.

Pesquisar “qual a capital do Burundi” para os nossos amigos, será visto igualmente como

um chamamento a nos atestar de informação sobre este país subsariano nos dias

seguintes. Por isso, acho que por mais atentos que sejam, eles sofrem também por

antecipação.

No fundo, ainda não são perfeitos, mas poupam-nos a maçada de procuras longas,

assustam-nos com a precisão das nossas vontades e tentam adivinhar tudo para nosso

bem. Que outros melhores amigos poderíamos ter?