Demora de resposta da Polícia a tiroteio em escola no Texas questionada nos EUA
A demora da polícia norte-americana a entrar numa sala de aula da escola primária de Uvalde, estado do Texas, onde um atirador matou 19 crianças e dois professores na terça-feira, está a ser alvo de críticas no país.
Após dois dias de relatos pouco claros e contraditórios da polícia, um agente do Texas disse que, ao contrário do que havia sido relatado anteriormente, um polícia armado do distrito escolar não avistou ou trocou tiros com o agressor Salvador Ramos, de 18 anos, antes de entrar na escola localizada na cidade de Uvalde.
Mas muitos outros detalhes sobre o os eventos e a resposta da polícia permanecem por revelar.
O motivo do massacre - o mais mortal tiroteio numa escola do país desde o que ocorreu em Newtown, Connecticut, há uma década - permanece sob investigação, com as autoridades a afirmar que Ramos não tinha um histórico criminal ou de saúde mental conhecido.
Durante o cerco, que terminou quando uma equipa da Patrulha de Fronteira norte-americana entrou e disparou contra o atirador até à morte, testemunhas frustradas terão pedido aos polícias que entrassem na escola.
"Entrem! Entrem!", gritaram mulheres aos polícias logo após o início do ataque, disse Juan Carranza, que assistiu à cena do lado de fora de uma casa, junto à escola.
Carranza disse que os polícias deveriam ter entrado na escola mais cedo: "Havia mais polícias e apenas um atirador."
O diretor do Departamento de Segurança Pública do Texas, Steve McCraw, disse na quarta-feira que se passaram entre 40 minutos a uma hora desde o momento em que Ramos abriu fogo contra o oficial de segurança da escola até que a equipa tática disparou contra o jovem de 18 anos.
"Eles (agentes) envolveram-se imediatamente. Eles travaram (Ramos) na sala de aula", disse McCraw.
Mas um porta-voz do departamento disse hoje que as autoridades ainda estão a trabalhar para esclarecer o cronograma do ataque, sem saber se esse período de 40 minutos a uma hora começou quando o atirador chegou à escola, ou antes, quando disparou contra a sua avó ainda em casa.
O chefe da Patrulha de Fronteira, Raul Ortiz, também não forneceu um cronograma dos incidentes, mas disse repetidamente que os oficiais táticos da sua agência não hesitaram.
Ortiz declarou que se moveram rapidamente para entrar no prédio, assumindo uma formação atrás de um agente que segurava um escudo.
"O que queríamos garantir era que agiríamos rapidamente e foi exatamente isso o que os agentes fizeram", disse Ortiz ao canal Fox News.
Porém, uma fonte policial disse que, uma vez no prédio, os agentes da Patrulha de Fronteira tiveram problemas em arrombar a porta da sala de aula e tiveram que pedir a um funcionário para abri-la com uma chave.
A fonte falou sob condição de anonimato porque não estava autorizada a falar publicamente sobre a investigação.
Javier Cazares, cuja filha foi morta no ataque, disse que correu para a escola enquanto o massacre acontecia.
Quando chegou ao local, viu dois polícias do lado de fora da escola e cerca de cinco outros escoltando os alunos para fora do edifício. Mas 15 ou 20 minutos decorreram antes da chegada de polícias com escudos, equipados para enfrentar o atirador, disse Cazares.
À medida que mais pais se aglomeravam na escola, ele e outros pressionaram a polícia a agir. Cazares ouviu cerca de quatro tiros antes de os pais serem mandados de volta para um estacionamento.
"Muitos de nós discutimos com a polícia: 'Vocês todos precisam de entrar lá. Precisam de fazer os vossos trabalhos. A resposta deles foi: 'Não podemos fazer o nosso trabalho porque vocês estão a interferir'", relatou Cazares.
Salvador Ramos bateu a sua carrinha numa vala do lado de fora da escola, pegou a sua arma semiautomática AR-15 e disparou contra duas pessoas do lado de fora de uma funerária, que fugiram ilesas, segundo autoridades e testemunhas.
Quanto ao oficial armado da escola, ele estava nas proximidades, mas não estava no recinto escolar quando Ramos bateu com a sua carrinha, de acordo com um polícia que falou na condição de anonimato.
Os investigadores concluíram que o funcionário da escola não estava posicionado de forma a confrontar o atirador antes de entrar no prédio, disse a fonte policial.
Quando Ramos entrou na escola, dois polícias de Uvalde trocaram tiros com ele e ficaram feridos. Logo depois, Ramos começou a matar as suas vítimas numa sala de aula.
Antes de atacar a escola, Ramos disparou e feriu a sua avó na casa que dividiam. Gilbert Gallegos, 82 anos, que mora na mesma rua e conhece a família há décadas, disse que estava no seu quintal quando ouviu os tiros.
Ramos saiu a correr pela porta da frente e atravessou o quintal até uma carrinha estacionada em frente à casa e saiu a correr, segundo Gallegos, que disse ainda não ter ouvidos nenhuma discussão antes ou depois dos tiros e não ter conhecimento de nenhum histórico de 'bullying' ou abuso contra Ramos.