ONU alerta que escolas são um dos alvos mais atingidos nos principais conflitos
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou hoje que as escolas são um dos alvos mais atingidos nos principais conflitos mundiais, com centenas de professores mortos, feridos, sequestrados ou agredidos.
No debate anual sobre a proteção de civis em conflitos armados, hoje no Conselho de Segurança em Nova Iorque, o diretor da Divisão de Coordenação do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Ramesh Rajasingham, apontou o caso do conflito afegão como exemplo de ataques a infraestruturas de ensino.
"Nos primeiros nove meses do ano passado, mais de 900 escolas no Afeganistão foram destruídas, danificadas ou fechadas e a sua reabilitação prejudicada por riscos de explosão", detalhou Rajasingham.
Também na Etiópia, milhares de escolas foram total ou parcialmente danificadas e mais de 30.000 professores deslocados.
No Iémen, os ataques danificaram ou destruíram escolas, hospitais, infraestruturas de telecomunicações, estradas, fábricas, casas, carros e quintas agrícolas.
Ataques contra instalações de saúde no Afeganistão dificultaram o acesso a serviços de saúde a 300.000 pessoas.
De acordo com Ramesh Rajasingham, na Síria os danos a infraestruturas industriais geraram milhões de toneladas de escombros e poeiras contendo materiais perigosos, como amianto, metais pesados ou produtos químicos, com um impacto potencialmente grave na saúde dos civis.
Em relação à saúde mental, a ONU estima que cerca de uma em cada cinco pessoas que vivem em áreas afetadas por conflitos sofram de depressão, ansiedade e stress pós-traumático.
Perante o Conselho de Segurança, Rajasingham referiu que 90% das vítimas do uso de armas explosivas em áreas povoadas são civis, em comparação com 10% das vítimas em outras zonas de conflito menos populosas.
"Na Síria, Afeganistão e outros lugares, artefactos explosivos improvisados, minas terrestres e resquícios de explosivos de guerra causaram a morte e ferimentos de civis e impediram o acesso a terrenos agrícolas, serviços e meios de subsistência", disse o responsável da OCHA.
Rajasingham aproveitou ainda a presença de diplomatas de todo o mundo nesta reunião para recordar os dados divulgados esta semana pelo alto-comissário da ONU para os Refugiados, de que o número de pessoas deslocadas devido a conflitos em todo o mundo atingiu um recorde de 100 milhões, impulsionado pela guerra na Ucrânia.
"Quando os civis fogem para áreas mais seguras, as pessoas com deficiências ou limitações, incluindo crianças e idosos, muitas vezes são deixados para trás. Aqueles que conseguem fugir muitas vezes não têm assistência e enfrentaram dificuldades de mobilidade", frisou.
Também o diretor-geral do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Robert Mardini, lamentou que este tema seja abordado ano após ano sem melhorias para a situação dos civis nos conflitos, apelando por uma ação concreta do Conselho de Segurança.
A guerra da Rússia da Ucrânia foi recordada por vários diplomatas que tomaram a palavra durante a reunião, como a embaixadora norte-americana, Linda Thomas-Greenfield, que reforçou os apelos para que Moscovo "seja devidamente responsabilizado pelas atrocidades cometidas".