Açores esperam bater recorde de escalas de navios cruzeiros em 2022
Os Açores registaram mais de 100 escalas de navios de cruzeiros, em 2022, e devem atingir um recorde até ao final do ano, podendo chegar perto das 200, revelou hoje o responsável do setor na Portos dos Açores.
"Se as coisas continuarem assim, vamos bater o recorde de escalas, agora vamos ficar longe do recorde de passageiros", adiantou, em declarações à Lusa, André Velho Cabral, responsável do departamento de cruzeiros da Portos dos Açores, empresa que gere as infraestruturas portuárias na região.
As taxas de ocupação dos navios de cruzeiros continuam abaixo dos valores registados antes da pandemia de covid-19, mas os armadores estimam que 2023 traga uma "retoma da normalidade".
Nesse cenário, se o número de escalas se repetir, o turismo de cruzeiros nos Açores pode render perto de 10 milhões de euros.
"Podíamos atingir facilmente mais de 200 escalas, com passageiros em taxa de ocupação normal, e aí já não estávamos a falar em sete milhões [como em 2019], mas em quase 10 milhões", disse André Velho Cabral.
Segundo um estudo realizado pela Portos dos Açores, em 2009 e 2010, entre taxas portuárias e consumos médios, o turismo de cruzeiros representa cerca 30 euros por passageiro, na região.
Com base nestes valores, o setor pode ter deixado na economia açoriana entre "seis a sete milhões de euros", em 2019, ainda que o responsável da Portos dos Açores admita que as estimativas, calculadas há mais de 10 anos, possam já estar desatualizadas.
"Há quem defenda que é muito pouco, que certamente os passageiros vão gastar mais do que isso, até porque os tripulantes saem dos navios, também consomem e não se tem contabilizado isso", explicou.
A crescente procura por navios de expedição, com passageiros que têm maior poder de compra, pode também ter um impacto diferente nas contas.
Nos primeiros quatro meses e meio de 2022, a região contabilizou mais de 100 escalas, superando as 97 registadas em todo o ano de 2021.
Em comparação com 2019, ano anterior à pandemia de covid-19, registou-se também um crescimento, nos primeiros meses do ano, ainda que apenas no número de escalas.
"Neste primeiro semestre de 2022, estimamos que de facto se atinja por volta de 110 a 112 escalas, o que é, comparativamente a 2019, bastante significativo, porque ficámos pelos 88. Temos um incremento de 30%", salientou o responsável da Portos dos Açores.
Os meses de abril e maio são tradicionalmente a "época mais forte" do turismo de cruzeiros nos Açores, mas, em 2022, estão previstas escalas em "todos os meses" e começa a formar-se uma segunda época alta.
"Em setembro, temos previstas 20 escalas, em outubro 19 e em novembro 24", indicou o responsável da Portos dos Açores, alegando que o turismo de cruzeiros é um "complemento interessante" para "mitigar a sazonalidade".
Não fossem as condições meteorológicas adversas, a região poderia ter tido "mais 20 ou 30 escalas" no início do ano e serão também o vento e a agitação marítima a definir se os Açores conseguem ou não atingir as 200 escalas previstas para 2022, mas tudo indica que o recorde de 152 escalas, registado em 2017, será batido, acrescentou.
O "crescimento significativo de escalas" não se traduziu, no entanto, num aumento de passageiros, porque, sobretudo, os navios de maior dimensão, continuam a viajar com "metade ou pouco mais de metade" da ocupação.
Segundo as estimativas da Portos dos Açores, terão passado pela região "perto de 65 mil passageiros", em 2022, pouco mais de 60% dos 107.400 passageiros registados em maio de 2019, com apenas 84 escalas.
Até ao final do ano, a empresa espera atingir cerca de 130 mil passageiros, um número abaixo do valor máximo registado na região (164 mil passageiros, em 2018), mas ainda assim "positivo" para a época atual.
"Em termos de escalas, será excelente, porque vamos atingir o máximo, com várias ilhas a ter muitas visitas. Em termos de passageiros, 130 mil é menos do que vários anos, mas temos de ter em conta que estamos ainda a viver uma pandemia", explicou André Velho Cabral.
Região já é "destino por si" no turismo de cruzeiros
Os Açores são cada vez mais procurados por cruzeiros de expedição, que passam por várias ilhas e já representam cerca de metade das escalas, disse hoje o responsável pelo setor da Portos dos Açores.
"Na primeira década dos anos 2000 éramos uma região de passagem dos navios que faziam as rotas transatlânticas. Neste momento, as coisas estão muito diferentes. Para estes cruzeiros de expedição, os Açores não são passagem, são destino por si. Eles vêm cá de propósito visitar as nossas ilhas todas", afirmou, em declarações à Lusa, André Velho Cabral, responsável do departamento de cruzeiros da Portos dos Açores, empresa que gere as infraestruturas portuárias na região.
Entre as mais de 100 escalas de navios de cruzeiros já contabilizadas em 2022, "perto de 50%" foram de navios de expedição, que, apesar de mais pequenos, têm uma "taxa de ocupação interessante" e visitam mais ilhas.
"Este mercado dos cruzeiros de expedição é, claramente, o que tem crescido mais nos últimos tempos", assegurou André Velho Cabral.
Os Açores "têm sido uma grande surpresa" para este tipo de cruzeiros, que habitualmente procuravam destinos como a Antártida e Ártico, segundo o responsável da empresa que gere os portos da região.
"Um comandante de um navio alemão até dizia outro dia que isto era um segredo bem guardado, que não convém que digam a muita gente", contou.
Durante muitos anos, o principal mercado de turismo de cruzeiros nos Açores foi o americano, depois passou a ser o britânico e hoje é "claramente o mercado alemão", que domina os navios de expedição, com "um grau de satisfação muito elevado".
O navio Hanseatic Spirit, da empresa alemã Hapag Lloyd, por exemplo, já fez três cruzeiros nos Açores, em 2022, passando por quase todas as ilhas, com taxas de ocupação a rondar os 75%.
"Só do Hanseatic Spirit, que é um dos navios de expedição mais modernos, fez mais de 25 escalas", revelou André Velho Cabral, acrescentando que numa das viagens, em 200 lugares disponíveis, o navio trazia 152 preenchidos.
Os navios de maior dimensão continuam a passar pela região, mas procuram sobretudo os três principais portos: Ponta Delgada (São Miguel), Praia da Vitória (Terceira) e Horta (Faial).
Para além de "potenciar as ilhas todas", o cruzeiro de expedição traz um cliente com "grande poder de compra" e "respeitador da natureza".
"Os cruzeiros de expedição são navios mais pequenos, que vão a locais onde os maiores não passam. Vão com uma especificidade muito interessante, porque querem observação da natureza, 'birdwatching' [observação de aves], observação de cetáceos...Vão para zonas onde se preserva e se valoriza a natureza, onde se procura analisar mais de perto a vida animal", sublinhou André Velho Cabral.
Os próprios navios são "amigos do ambiente" e os turistas são, por norma, "muito conscientes da relevância da natureza", mas também da "gastronomia, história e cultura" que os Açores têm para oferecer.
Segundo André Velho Cabral, este tipo de cruzeiros atrai um "mercado de luxo", em que os passageiros chegam a pagar 10 vezes mais do que num cruzeiro de maior dimensão.
"Um navio grande, no Mediterrâneo, cobra 600, 700 euros. O navio de expedição cobra 6.000, 7.000", salientou.
O responsável da Portos dos Açores disse que este segmento foi "fundamental" para a "retoma" do turismo de cruzeiros na região, após a quebra provocada pela pandemia de covid-19, e "a tendência continua" em 2022.
"Éramos um destino seguro e um destino de natureza. Foram basicamente os navios de expedição que fizeram as 97 escalas [registadas em 2021]", explicou.