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Ser pobre numa região rica

É habitual subestimar-se os dados que os partidos da oposição apresentam, mesmo que sejam factuais. As pessoas sem-abrigo são a ponta do iceberg de um problema maior com a região se defronta ainda: as condições socioeconómicas difíceis e angustiantes porque passam cerca de 1/3 dos madeirenses.

E não estamos a falar de um quadro ficcional, retratado num filme ou série televisiva. Mais do que falarmos em números, falamos de pessoas que passam os seus dias a pensar como vão fazer face às suas despesas e sem capacidade para uma despesa inesperada.

No indicador de privação material severa, enquanto que todas as regiões NUTs II registaram uma diminuição da taxa entre 2019 e 2020, na Madeira aumentou cerca de 50%, de 7,3 para 11 p.p. Aliando a outro indicador, a intensidade laboral per capita muito reduzida, a Madeira tem a mais alta taxa, 9,2 p.p, enquanto a média no país é de 5,1% e nos Açores 8 p.p.

Este conjunto de indicadores resultou, em 2020, numa percentagem de população em risco de pobreza ou exclusão social de 32,9%, na Madeira. E é maioritariamente deste grupo social com rendimentos abaixo da linha de pobreza, aliada ao consumo de álcool e drogas sintéticas que causam graves perturbações mentais e sociais, que emergem as pessoas sem-abrigo.

É claro para nós que não se termina com o flagelo das pessoas na rua, sem políticas públicas que combatam a pobreza na sua raiz. Não basta dar casa e trabalho a quem não o tem. Uma sociedade se não deixa de ser pobre vai continuar a produzir outros tantos sem-abrigo.

Mas temos, por outro lado, o discurso da maioria que prefere acentuar os indicadores positivos e desvalorizar aqueles que estão menos bem. Se não houvesse oposição na Madeira, ficaríamos com a impressão de que na Madeira estamos muito melhor do que no resto do país. São os indicadores que refletem piores condições de vida os que exigem ação e medidas públicas vigorosas para os reverter.

Só não percebo porque é que se, como diz o partido da maioria, não há assim tantos pobres na Madeira como nas outras regiões do país, então porque é que o governo regional insiste em pedir reforço de verbas da segurança social para as políticas de solidariedade?