Análise

Alertas sensatos

É preferível enfatizar quem se atreve a questionar do que alimentar piropos

Apreciamos gente que, com atitude determinada, vai partilhando contributos e alertas para que os cidadãos não se acomodem a rotinas e fatalidades, mais ou menos engendradas, nem adormeçam com os comunicados poéticos e inconsequentes dos legítimos aspirantes ao poder ou dos abastados gestores da coisa pública. Mesmo correndo o risco de serem catalogados com epítetos pouco recomendáveis; mesmo que uns sejam mais conhecidos do que outros; mesmo que haja carga utópica em algumas intervenções públicas, importa guardar o que pode significar para o futuro colectivo o reparo assumido em várias frentes: às vacinas contra a covid, agora já obsoletas; à manifesta falta de policiamento urbano numa terra dita segura, mas com registo de violadores à solta e de outros marginais atentos à mudança do perfil do turista que nos visita; à necessidade de coerência entre os esforços de promoção do destino de qualidade e os serviços disponibilizados com limitações que não se compadecem com a reputação mundial já alcançada; à escassez de habitação, agravada pelas encenações que empurram para data incerta a resolução de apenas 30% das carências existentes: à disparidade entre salários entre homens e mulheres para funções idênticas; ou até à irrelevância a que chegou o Nacional, agora presidencialmente focado na manutenção, ou seja, assumindo-se como clube de segunda, sem que a modesta ambição gerasse qualquer protesto público.

Os sensatos que contribuem com o dinheiro dos seus impostos para o estado a que muita coisa chegou na Região têm que fazer subir o nível de exigência. Por exemplo, não podem tolerar que sempre que forem obrigados a fazer uma viagem de emergência à sexta-feira noite com destino a Lisboa e voltar na terça-feira seguinte, apenas com mala de cabine e sem lugar marcado, a opção seja recorrer à TAP e pagar à cabeça 715 euros. Acham mesmo que com este preço, e outros não menos pornográficos nas ditas ‘low cost’ em situações de aperto, e com três companhias a operar nesta rota, a continuidade territorial está assegurada e a igualdade entre portugueses está garantida? Acham que a revisão do subsídio de mobilidade não é urgente e que os eleitos não têm culpas nesta fantochada que serve lindamente quem é dono de si mesmo, mas entala quem depende de terceiros? Que desculpa vão dar na próxima campanha e que companhia vão contratar para acabar com este assalto organizado?

Os sensatos que já deram para todos os peditórios exigidos pelos que nos desgovernam não podem tolerar que a Região que enche a boca de transição digital, continue a praticar proteccionismos retrógrados. Em vez de “transformar o TVDE num motor de crescimento e de melhoria da mobilidade regional”, quem manda, para além de não andar de transportes públicos, funciona como força de bloqueio a serviços alternativos com leis que penalizam utilizadores globais.

Os sensatos que até agora têm aturado pacientemente alguma mediocridade vigente não podem tolerar a má vizinhança instalada à conta da diversão nocturna, regada com excessos, apenas porque ninguém pensa na animação que não se limite ao lucro rápido e barulhento.