Cerca de 100 pessoas marcham contra raptos em Moçambique
Cerca de 100 pessoas juntaram-se hoje na cidade da Beira, centro de Moçambique, numa marcha contra a onda de raptos que atinge empresários e familiares, num tipo de ação pública que é rara e que costuma ser reprimida no país.
"A cada rapto há uma família destruída", lia-se numa das várias tarjas que os participantes levavam, dois dias depois de um novo sequestro.
A vítima foi uma filha de 19 anos de um empresário da cidade, do ramo comercial, levada por desconhecidos armados, em plena luz do dia, à porta de uma universidade da cidade da Beira.
Hoje, a marcha percorreu parte da cidade, com a polícia a escoltar os participantes, ao contrário de travar a ação, como já aconteceu em eventos semelhantes - alegando preceitos burocráticos e sendo depois repreendida pelo Governo e Procuradoria-Geral da República.
"Cada um de nós vive aterrorizado, apavorado e desassossegado, temendo pela nossa vez. Na comunidade estudantil, questionamos quem é o próximo, não quem é o culpado", referiu Sayfallah Karim, representante dos estudantes na marcha que juntou também professores e empresários.
"Esta marcha é muito importante para motivar as autoridades, para que parem com esta onda de raptos. Amanhã podem ser as nossas filhas e irmãs e isto preocupa-nos", frisou Fazel Giva, representante de um movimento anti-rapto criado pela sociedade civil.
"Esses raptos podem trazer efeitos nefastos para o investimento", referiu Ibrahim Musagi, um dos professores na marcha.
Numa avaliação sobre a criminalidade, apresentada no início do mês, a procuradora-geral da República de Moçambique referiu que os crimes de rapto têm vindo a aumentar e os grupos criminosos têm ramificações transfronteiriças, mantendo células em países como África do Sul.
De acordo com Beatriz Buchili, foram registados 14 processos-crime por rapto em 2021, contra 18 em 2020, mas há outros casos que escapam à contabilidade oficial, sendo que na maioria o desfecho é desconhecido.
A procuradora-geral disse ainda que as "vítimas de rapto" são "constantemente chantageadas" pelos raptores, mesmo depois de libertadas, para lhes continuarem a pagar quantias em dinheiro, agravando o sentimento de insegurança.
Em março, a procuradora-geral alertou também para a cumplicidade de polícias: ?Não podemos continuar a ter casos de assaltos à mão armada, raptos, violações, perpetradas por alguns indivíduos que ingressam no Serviço Nacional de Investigação Criminal [Sernic]", disse.