Rússia ameaça tomar central nuclear de Zaporijia e sugere anexação da região
A Rússia quer retirar à Ucrânia a sua central nuclear em Zaporijia, a maior da Europa, ocupada pelo exército russo, a menos que Kiev pague a Moscovo pela eletricidade produzida, anunciou hoje o vice-primeiro-ministro russo, Marat Khousnullin.
Esta declaração junta-se a outras avançadas pelas autoridades russas nas últimas semanas, sugerindo que a Rússia está a preparar uma ocupação de longo prazo ou mesmo a anexação das áreas que controla no sul da Ucrânia: a região de Kherson e uma parte significativa de Zaporijia.
"Se o sistema de energia da Ucrânia está pronto para receber e pagar, [a central] poderá regressar [às mãos] da Ucrânia. Se [a Ucrânia] não aceitar, (a central) vai passar para a Rússia", afirmou Khousnoulline, durante uma visita feita na quarta-feira à instalação nuclear e hoje citado pelas agências de notícias russas.
"Temos muita experiência com centrais nucleares, temos empresas na Rússia que têm essa experiência, não há dúvida de que (a de Zaporijia) vai continuar a funcionar", disse.
A agência nuclear ucraniana, a Energoatom, garantiu hoje de manhã que a central nuclear continua a fornecer eletricidade à Ucrânia.
Os russos "não têm capacidade técnica para fornecer energia a partir da central nuclear de Zaporijia", garantiu o porta-voz da Energoatom, Leonid Oliynyk, citado pela agência de notícias francesa AFP.
"Isso requer tempo e dinheiro. É como construir uma ponte na Crimeia. E daqui a um mês ou dois vamos retomar o controlo ucraniano sobre tudo", acrescentou.
Segundo o porta-voz, "ninguém vai ter de comprar nada deles [russos]".
Oliynyk assegurou ainda que a Rússia não tem capacidade para cortar a eletricidade das regiões da Ucrânia que não estão sob controlo russo, até porque "todos os equipamentos necessários estão sob controlo ucraniano".
Em 2021, ou seja, antes da ofensiva russa contra a Ucrânia lançada em 24 de fevereiro, a central de Zaporijia era responsável por 20% da produção anual de eletricidade da Ucrânia e por 47% da produzida pelo parque nuclear ucraniano.
As forças de Moscovo assumiram, no início de março, o controlo desta central, localizada na cidade de Energodar, no sul da Ucrânia, separada pelas águas do Dnieper da capital regional Zaporijia, ainda nas mãos dos ucranianos.
Os confrontos que ocorreram na região nos primeiros dias do conflito levantaram receios de um possível desastre nuclear no país, onde um reator explodiu, em 1986, em Chernobyl.
Marat Khousnullin afirmou ainda que a Rússia está naquela região da Ucrânia para ficar, o que parece implicar uma anexação da zona.
"Considero que o futuro desta região é trabalhar dentro da simpática família russa. Por isso vim, para ajudar ao máximo a integração", adiantou o vice-primeiro-ministro russo.
As autoridades russas e pró-Rússia colocadas na Ucrânia por Moscovo também disseram, na semana passada, que a região ucraniana de Kherson será, provavelmente, anexada pela Rússia.
O controlo da Rússia no litoral do Mar de Azov (em Kherson, Zaporijia e Donetsk), incluindo o porto de Mariupol, fornece uma ponte terrestre que liga o território russo à península da Crimeia, anexada em 2014.
Ao lançar a sua ofensiva militar, o Presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que o país não iria ocupar territórios ucranianos.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A guerra na Ucrânia, que hoje entrou no 85.º dia, causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas das suas casas -- cerca de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,1 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também as Nações Unidas disseram que cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.