Estudo aponta necessidade de "mudança cultural estrutural" no desporto português
O setor do desporto português precisa de "uma mudança cultural estrutural", aponta um estudo da PricewaterhouseCoopers encomendado pelo Comité Olímpico de Portugal (COP), o Comité Paralímpico de Portugal (CPP) e a Confederação do Desporto de Portugal (CDP).
Na segunda parte deste relatório, hoje divulgado, sobre o estado do setor em Portugal face a outros países europeus e após a pandemia de covid-19, fala-se numa ambição de "impulsionar uma mudança cultural estrutural", a caminho de "uma sociedade que reconheça a importância social e económica do desporto e se envolva numa prática regular de atividade física e desportiva".
Em concreto, os desafios do sistema desportivo português são numerosos e com várias "vulnerabilidades estruturais há muito enraizadas".
A "pobre estrutura de financiamento", com subfinanciamento e fortemente dependente do setor público "por parte das autoridades locais", e o valor "curto" do Governo central e dos jogos de fortuna, dos operadores de apostas e outros acordos, expõem o setor a dificuldades.
Outras das fragilidades vão de um baixo nível de profissionalização a "níveis alarmantes de participação desportiva", com mínimos históricos sem ação eficaz dos governos, com desinteresse "particularmente entre as mulheres, minorias étnicas, pessoas com deficiência e seniores", além de "níveis inquietantes de analfabetismo físico-motor entre as crianças".
A "fraca consciencialização para a inovação no desporto" e questões de ética e integridade, com "vários escândalos com corrupção, manipulação de resultados, violência organizada e branqueamento de capitais" são outros fatores elencados.
"Em suma, as fraquezas estruturais do desporto português refletem uma generalizada falta de cultura desportiva na sociedade. O desporto português apresenta problemas estruturais profundos, que, em última análise, se espelham na perceção que a sociedade tem do desporto. Ao longo do tempo, os governos não conseguiram reconhecer toda a extensão do impacto socioeconómico do desporto, enquanto, por outro lado, as organizações desportivas demonstraram uma capacidade limitada de responder a desafios, devido ao seu baixo nível de profissionalização", resume o documento.
Apesar das dificuldades, o relatório nota uma "evolução positiva" nas últimas décadas, "com uma maior implantação da prática desportiva a nível nacional, devido a fatores como reformas regulamentares e investimento em infraestruturas", mas ainda longe da média europeia na maior parte dos indicadores.
"Os governos portugueses não conseguiram incluir o desporto na agenda política e potenciar o seu impacto socioeconómico, que vai muito para além dos benefícios para a saúde", pode ler-se no sumário executivo.
A situação preocupante que o relatório exibe pede, assim, que se lidere "uma mudança cultural e envolva toda a sociedade no reconhecimento da importância do desporto a todos os níveis".
"[Para isso] os parceiros do sistema desportivo precisam de melhorar o seu alinhamento estratégico e tomar medidas concertadas", nota o relatório.
Assinalando seis áreas prioritárias, em si divididas em mais de uma dezena de recomendações, pede-se um "catalisador transversal abrangente" que passa, entre outras propostas, pela conceção de uma Estratégia Nacional para o Desporto.
Esta deve "conectar todas as suas dimensões, melhorando a coordenação entre os intervenientes e reforçando a sua relevância na agenda política", potenciando um setor que se quer "sustentável" e com decisões tomadas com base em evidências.
O aumento do financiamento canalizado para o setor, com uma ligação entre "financiamento público e sucesso desportivo", a redução da burocracia e a gestão eficiente de recursos são as notas da consultora neste campo.
A profissionalização do setor, a sustentabilidade, o aumento da atividade física, da promoção do desporto no sistema educativo e no de inclusão social, a dinamização da transição digital e a ligação ao setor científico e académico são outras recomendações, lembrando ainda questões de responsabilidade social e integridade.
A primeira parte do estudo, apresentada em julho de 2021, notou uma perda de 16 mil empregos, 3.100 clubes e 595 milhões de euros no setor dado o impacto da pandemia de covid-19, com um decréscimo de 110 mil praticantes, com o último ano a compensar apenas parcialmente os danos.
Presidente do COP pede mudança nas políticas públicas para o desporto
O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) pede, em entrevista à Lusa, uma mudança de paradigma no que às políticas públicas e investimento no desporto diz respeito no país para contrariar a "situação desvantajosa" no setor.
José Manuel Constantino falou à Lusa sobre a segunda parte de um estudo encomendado pelo COP, pelo Comité Paralímpico de Portugal (CPP) e Confederação de Desporto de Portugal (CdP), sobre o estado do setor em Portugal face a outros países europeus e após a pandemia de covid-19.
"[O estudo é] a confirmação de que existe um enorme desequilíbrio no âmbito do investimento público para o desporto entre o que é praticado em Portugal e o que é previsto na generalidade dos países europeus no âmbito do qual o estudo comparado foi realizado", destaca.
Para o dirigente, este "trabalho mais exaustivo e profundo" na segunda parte, realizado pela PricewaterhouseCoopers, "traduz de forma evidente o subfinanciamento do ponto de vista público que o setor do desporto tem em Portugal".
"O estudo faz um retrato da situação, e apresenta um conjunto de sugestões relativamente à forma de podermos recuperar a distância que temos da generalidade dos países europeus. Isso vai depender, naturalmente, das políticas públicas. [...] Esse é o desafio colocado às políticas públicas", completa.
O COP, de resto, mostra-se disponível para continuar a apresentar propostas ao país, em particular "a quem tem responsabilidades de governação", e colaborar na procura de uma nova estratégia e caminho para o desporto nacional.
Entre os tópicos que José Manuel Constantino elenca para "aumentar o grau de competitividade, não apenas no plano externo, mas também no plano interno", estão o alargamento da base de praticantes e a consolidação do tecido associativo, entre outras, para "introduzir reformas no sistema desportivo que possam ajudar a que possa crescer e desenvolver-se".
"Quando falamos que é necessária uma estratégia, não falamos de um plano especial, planos especiais já tivemos no passado e infelizmente estão nas gavetas dos departamentos. Precisamos de vontade, em primeiro lugar, de natureza política, e depois de uma orientação, de um sentido, de um caminho. Temos total disponibilidade para continuar a cooperar", aponta.
Do poder político, espera que este olhe para o estudo hoje apresentado e "faça a avaliação que entender e possa retirar algumas consequências", porque "não basta fazer mais do mesmo, falta fazer mais e diferente".
"É isso que o estudo indicia e sugere. [...] Não é manter uma linha de continuidade, é alterá-la, e se queremos um salto significativo, como o programa do Governo coloca, de em 10 anos colocar Portugal nos 15 países europeus mais ativos desportivamente", comenta.
O setor do desporto português precisa de "uma mudança cultural estrutural", aponta a segunda parte deste relatório, hoje divulgado.
O documento destaca a ambição de "impulsionar uma mudança cultural estrutural", a caminho de "uma sociedade que reconheça a importância social e económica do desporto e se envolva numa prática regular de atividade física e desportiva".
Em concreto, os desafios do sistema desportivo português são numerosos e com várias "vulnerabilidades estruturais há muito enraizadas".
A "pobre estrutura de financiamento", com subfinanciamento e fortemente dependente do setor público "por parte das autoridades locais", e o valor "curto" do Governo central e dos jogos de fortuna, dos operadores de apostas e outros acordos, expõem o setor a dificuldades.
A situação preocupante que o relatório exibe pede, assim, que se lidere "uma mudança cultural e envolva toda a sociedade no reconhecimento da importância do desporto a todos os níveis".
O aumento do financiamento canalizado para o setor, com uma ligação entre "financiamento público e sucesso desportivo", a redução da burocracia e a gestão eficiente de recursos são algumas notas da consultora neste campo.