Infecção pelo vírus Monkeypox em Portugal pode ser um surto
Os casos de infeção pelo vírus Monkeypox confirmados em Portugal podem constituir um surto, mas não está "para já" identificada qualquer ligação entre eles para além do local onde foram detetados, disse hoje a infeciologista Margarida Tavares.
"Podemos utilizar a palavra surto porque podemos falar em surto sempre que há um aumento de casos face ao que é esperado. E nós não esperávamos que nenhum caso ocorresse em Portugal", disse a médica que é membro do grupo de trabalho criado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) que está a gerir esta situação.
Em declarações aos jornalistas, no Porto, a também diretora do Programa Nacional para as Infeções Sexualmente Transmissíveis e VIH confirmou que os casos foram detetados numa clínica ligada a doenças sexualmente transmissíveis em homens jovens com idades entre os 20 e os 50 anos.
"Foram identificados em contexto de atendimento numa clínica de doenças sexualmente transmissíveis porque apresentavam lesões genitais. É verdade que são casos de homens que têm sexo com homens, mas essa pode só ter sido a forma como foi dado o alerta. Ainda não sabemos mais. Não está descrita, classicamente, a via de transmissão sexual [como passível de causar esta infeção], mas há transmissão por contacto próximo, íntimo e prolongado", descreveu Margarida Tavares.
Salvaguardando que a situação em Portugal "está a ser acompanhada e estudada" e que se tratam de casos "muito recentes" que, do ponto de vista clínico, se traduzem em "situações muito ligeiras e benignas", a infeciologista que trabalha no Hospital de São João adiantou que além dos cinco casos já confirmados estão em estudo mais "cerca de 15".
Todas as situações, frisou, estão localizadas na região de Lisboa e Vale do Tejo.
"Mas para já não sabemos se existe relação. E sim, pode haver dispersão pelo país", acrescentou.
Rejeitando a palavra "isolamento", Margarida Tavares disse que as pessoas infetadas estão em casa e "estão aconselhadas a não contactar de forma próxima com outras pessoas".
Margarida Tavares também rejeitou falar em grupos populacionais suscetíveis, apontando que qualquer semelhança que se encontre atualmente nos casos detetados pode estar relacionada "não com suscetibilidade", mas sim com "oportunidade de contacto".
Esta é a primeira vez que é detetada em Portugal infeção pelo vírus Monkeypox.
O vírus Monkeypox é do género Ortopoxvírus (o mais conhecido deste género é o da varíola) e a doença é transmissível através de contacto com animais, ou ainda contacto próximo com pessoas infetadas ou com materiais contaminados.
Margarida Tavares alertou para a partilha de objetos como roupas de cama ou roupas de banho e admitiu que pode haver transmissibilidade através de gotículas respiratórias e das lesões cutâneas, nomeadamente da crosta em caso de escamação.
Manifestando-se em lesões que podem parecer idênticas à varicela, a infeção por vírus Monkeypox foi detetada pela primeira vez num ser humano em 1970 em países sobretudo da África Central e da África Ocidental.
Em 2003 foram reportados nos Estados Unidos da América algumas dezenas de casos.
Também o Reino Unido reportou, recentemente, casos semelhantes de lesões ulcerativas, com a confirmação de infeção por vírus Monkeypox.
Hoje, em comunicado a DGS disse que "está a acompanhar a situação a nível nacional e em articulação com as instituições europeias"
Questionada se existe relação entre a situação reportada no Reino Unido e a realidade portuguesa, Margarida Tavares reiterou que a situação está a ser analisada.
Em causa está uma doença que se manifesta em lesões cutâneas desde pequenas manchas até lesões com conteúdo líquido ou mesmo crostas que acabam por cair.
Em algumas circunstâncias fica uma cicatriz e os sintomas são sistémicos como febre ou febrícula, mialgias, aumento dos gânglios.
Sobre o tempo de recuperação associado a esta infeção a médica adiantou que "do que está estudado, o fim do período de contagiosidade ocorre com a cura completa das lesões", ou seja, quando as crostas caem, o que pode ocorrer entre duas a quatro semanas.
"Poderá haver alguma proteção das pessoas que foram vacinadas contra a varíola que terminou em 1973, mas tudo está ainda a ser analisado", voltou a salvaguardar a infeciologista.