Eu sou mulher
Eu sou Mulher.
A autora Simone de Beauvoir , diz “Não se nasce mulher, torna-se”. Com isto quer dizer que, o facto de existirmos, não nos afirma como mulher! Aliás, nós existimos, acima de tudo, como um Ser Humano sem qualquer tipo de predefinição. O que acontece é que essa predefinição é construída e ensinada. O mesmo acontece com o homem. Ele não nasce homem, ele torna-se homem. Portanto, toda essa masculinidade e feminilidade é construída e ensinada.
Eu mulher, tu mulher, nós mulheres, somos dependentes dos valores imputados pela História e pela cultura da sociedade, que coloca a mulher como subordinada de padrões que combinam com o nosso sexo biológico.
A diferença que é estabelecida entre os dois géneros resulta, simplesmente, de um processo construído de expectativas sobre o que é ser mulher e o que é ser homem, apenas isso.
Eu sou mulher e decido o que é melhor para mim. Assim como tu decides o que é melhor para ti. Eu tenho direitos sexuais e reprodutivos, assim como tu tens direitos sexuais (e reprodutivos).
Então, porque ainda este assunto é mencionado nos dias de hoje, século XXI? Será que estamos a regredir? Será que não somos evoluídos o suficiente? Será que…? Não sei, mas faz-me uma confusão tremenda…
Os direitos sexuais e reprodutivos, bem como a saúde reprodutiva são temas que já vêm de alguns anos, que começaram a ter força na década de 60. No entanto, no século XIX a luta pelos direitos das mulheres já se tinha iniciado e na primeira metade do século XX a luta pela igualdade já era uma luta, especialmente no direito à educação e ao voto.
Não nos esqueçamos que os direitos sexuais são componentes dos Direitos Humanos Universais, e são direitos que garantem a todas as pessoas, homens e mulheres, possam viver a sua vida sexual com prazer e livre de qualquer discriminação. Os direitos reprodutivos garantem o direito básico a todas de decidirem, de livre e espontânea vontade, sobre a oportunidade de terem filhos. Eu sou mulher, mas, acima de tudo, sou um Ser Humano que tem o direito de decidir se quero ou não ter filhos.
Recentemente, foi validado pela DGS e pelo Grupo de Apoio das Políticas de Saúde uma proposta que remunera médicos/as de família que não tenham utentes com ISTs e Interrupções voluntárias de gravidez, ou abortos desejados. Um médico faz o seu trabalho o melhor que pode, recomenda e ajuda o utente conforme as suas competências. O doente, neste caso, mulher decide o que é melhor para ela e o que ela realmente quer.
Acidentes acontecem… Os métodos podem falhar… Mas quem é culpabilizado é a mulher, e quem sofre as consequências é a mulher….
Estão em cima da mesa assuntos urgentes e importantes… O aborto seguro e a segurança da mulher… Já pensaram nisso?
Com riso irónico, não deixo de mencionar que a violação dos direitos à saúde sexual e reprodutiva das mulheres estão profundamente enraizados nos valores da sociedade em relação à sexualidade da mulher. Repito, sou mulher, mas sou também um Ser Humano.
É nosso dever, enquanto sociedade educar. Temos direito à educação sexual e reprodutiva. Pais, escolas e pessoas qualificadas têm a missão de educar jovens para com estas questões importantes, a fim de não existirem violações nos direitos humanos, para que possamos pôr fim a esta discriminação de longa data e de estereótipos contra as mulheres.
Eu sou mulher, tu és mulher, tu és pai/namorado/marido de uma mulher….
Nós mulheres, geramos vida, parimos vida!… e não temos direito a decidir quanto aos nossos direitos sexuais e reprodutivos? Ser mulher significa ser nada? É isso que a sociedade retrógrada quer dizer?
O primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz o seguinte: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”
Vamos refletir nisto, pode ser?