Pelos menos dez mortos em ataques russos contra cidade sitiada de Severodonetsk
Pelo menos dez pessoas morreram em bombardeamentos contra Severodonetsk, cidade no leste da Ucrânia praticamente cercada pelas forças russas, revelaram hoje as autoridades ucranianas, que esperam novos ataques de Moscovo na região do Donbass.
"Atualmente é extremamente difícil verificar a situação no terreno devido aos novos bombardeamentos. Pelo menos 10 pessoas morreram", referiu o governador na região de Lugansk, Sergey Gaidai, através da rede social Telegram.
Numa mensagem anterior, o governador tinha alertado para ataques de artilharia em Severodonetsk e na cidade próxima, Lyssytchank, que causaram incêndios em áreas residenciais.
"Severodonetsk sofreu ataques muito poderosos", acrescentou, divulgando ainda imagens a comprovar a destruição.
O autarca de Severodonetsk, Oleksandr Striouk, tinha anunciado em 06 de maio que aquela cidade estava "praticamente cercada" pelas forças de Moscovo e por separatistas pró-Rússia do Donbass, que procuram assumir o controlo total daquela região.
Cerca de 15.000 habitantes dos 100.000 que a localidade tinha antes da guerra ainda se mantêm em Severodonetsk, segundo a mesma fonte.
Severodonetsk e Lyssychank são duas das poucas cidades importantes na região de Lugansk, no Donbass, que ainda estão sob controlo ucraniano.
Ambas estão a cerca de 80 quilómetros a leste de Kramatorsk, que se tornou o centro administrativo do Donbass ucraniano desde que os separatistas tomaram a parte oriental desta grande região industrial, em 2014.
Já na região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, um ataque russo atingiu um armazém com nitrato de amónio, adiantaram hoje as autoridades regionais.
"A explosão na região de Kharkiv não representa uma ameaça para a população local", garantiu o governador da região vizinha de Donetsk no Telegram, divulgando ainda uma imagem com uma impressionante nuvem de fumo laranja.
"Um projétil russo atingiu um armazém no território da região de Kharkiv, onde, segundo informações preliminares, estava armazenado nitrato de amónio", acrescentou.
Este composto químico usado, por exemplo, como fertilizante, foi a fonte das explosões devastadoras que destruíram o porto e grande parte de Beirute em agosto de 2020.
A Ucrânia divulgou hoje que as suas forças tinham repelido os militares russos na região de Kharkiv e recuperado o controlo de parte da fronteira com a Rússia.
No entanto, Kiev está também a preparar-se para sofrer novos ataques na região do Donbass, onde Moscovo se tem estado a concentrar nas últimas semanas.
"Estamos a preparar-nos para novas tentativas russas de ataque no Donbass e, de alguma forma, para o intensificar do seu movimento no sul da Ucrânia", referiu o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Para Zelensky, os "ocupantes ainda não querem admitir que estão num beco sem saída e que a sua chamada operação especial já fracassou".
As forças ucranianas alcançaram duas vitórias importantes no campo de batalha, depois de a Rússia ter perdido quase mil soldados e cerca de cem unidades de equipamento militar, na semana passada, ao tentar atravessar o rio Severski Donets, segundo revelou o governador de Lugansk.
Segundo o Estado-Maior da Ucrânia, a capacidade das forças russas é, em algumas áreas, "inferior e 20%", depois de ter sofrido perdas significativas.
O comando russo estará também a tentar recrutar e reabastecer as suas forças com 2.500 reservistas, que estarão em treino em Voronezh, Belgorod e Rostov.
Os contra-ataques bem-sucedidos de Kiev levantam a questão se esta estratégia será utilizada em outras zonas do país.
Oleksiy Arestovych, assessor do Presidente ucraniano, revelou hoje que o Exército estará pronto para lançar um contra-ataque ativo em meados de julho, quando o país tiver armas pesadas ocidentais em número suficiente.
Kiev revelou ainda que com os contratempos sofridos, o comando militar russo já estará ciente que não poderá tomar a região de Donetsk e que, por isso, se está a focar em Lugansk, onde a Ucrânia apenas controla 10% do território.
A guerra na Ucrânia, que hoje entrou no 82.º dia, causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas -- cerca de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,1 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou hoje que 3.668 civis morreram e 3.896 ficaram feridos, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.