Kiev diz que UE está a pagar "a dobrar" e pede veto à energia russa
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano pediu hoje à União Europeia que vete as importações de petróleo e gás russos e criticou-a por "pagar a dobrar", comprando energia a Moscovo e financiando o envio de armas a Kiev.
"A UE está a pagar a dobrar. Primeiro, apoiando a Ucrânia e, a seguir, pagando à Rússia, e depois tem que voltar a pagar pela destruição do território ucraniano pelas armas russas. Não é assim que deveria acontecer", declarou Dmytro Kuleba à chegada à reunião que os ministros dos Negócios Estrangeiros europeus hoje realizam em Bruxelas.
"Sancionar o gás e o petróleo russos é do interesse da Europa, não só da Ucrânia", assegurou o chefe da diplomacia ucraniana.
Kuleba reúne-se hoje com os seus homólogos da UE e com a ministra dos Negócios Estrangeiros do Canadá, Mélanie Joly, que também se deslocou a Bruxelas, para debater os últimos acontecimentos da invasão russa da Ucrânia e o apoio do Ocidente a Kiev.
"Todos temos curiosidade por ver como termina esta saga", disse Kuleba sobre o sexto pacote de sanções da UE à Rússia, que prevê um veto às importações de petróleo russo em seis meses e petróleo refinado em oito meses, e que a Hungria, a Eslováquia e a República Checa estão a bloquear devido à sua elevada dependência da energia russa.
Estes três países pedem que se lhes dê mais um ano que aos restantes parceiros (até 31 de dezembro de 2023) para deixarem de importar petróleo russo e que Bruxelas financie as infraestruturas necessárias para adquirirem crude a partir de outros países.
O ministro ucraniano debaterá também a candidatura da Ucrânia de adesão à UE, depois de Kiev ter entregado na semana passada à Comissão Europeia o formulário que devem preencher todos os Estados que aspiram a fazer parte do bloco comunitário europeu.
"Pensamos que agora é o momento certo, e trabalharemos com todos os Estados-membros da UE e com a Comissão Europeia para conseguir resultados positivos para tornar a UE mais forte, mais segura, mais próspera a longo prazo", disse Kuleba.
O responsável também debateu a adesão com o comissário europeu da Vizinhança e Alargamento, o húngaro Oliver Varhelyi, tendo ainda aproveitado a visita a Bruxelas para se reunir com o comissário europeu da Economia, o italiano Paolo Gentiloni, com quem falou sobre a futura reconstrução do seu país.
"Seguindo a iniciativa do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, convidei a UE a liderar a reconstrução de uma das regiões ucranianas devastadas pela guerra", escreveu o MNE ucraniano na rede social Twitter, acrescentando que o bloco europeu "também apoiará a recuperação económica da Ucrânia e uma maior integração de bens e serviços no mercado único da UE".
Por último, Kuleba indicou que se reuniu com o comissário europeu da Gestão de Crises, o esloveno Janez Lenarcic, com quem discutiu as formas de mitigar as consequências da guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia a 24 de fevereiro, incluindo a desminagem humanitária.
"Agradecido por 30.000 toneladas de ajuda humanitária, o apoio ao Serviço Estatal de Emergências ucraniano", escreveu o chefe da diplomacia ucraniano, acrescentando que espera receber Lenarcic no seu país.
A guerra na Ucrânia, que hoje entrou no 82.º dia, causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas -- cerca de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,1 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou hoje que 3.668 civis morreram e 3.896 ficaram feridos, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.