Guerra leva a revisão em baixa do crescimento europeu para 2,7% este ano
A Comissão Europeia reviu hoje em baixa as previsões de crescimento económico devido à guerra na Ucrânia, estimando agora subidas de apenas 2,7% do PIB este ano e 2,3% no próximo, tanto na UE como na zona euro.
As projeções da primavera hoje divulgadas representam uma acentuada revisão em baixa relativamente às previsões de inverno, divulgadas em 10 de fevereiro, ainda antes de a Rússia ter invadido a Ucrânia, e que projetavam que o Produto Interno Bruto (PIB) subisse 4,0% este ano tanto no espaço da moeda única como no conjunto dos 27 Estados-membros, e 2,8% na UE e 2,7% na zona euro em 2023.
Segundo Bruxelas, "as perspetivas para a economia da UE antes do início da guerra eram de uma expansão prolongada e robusta", mas "a invasão russa da Ucrânia colocou novos desafios, precisamente quando a União tinha recuperado dos impactos económicos da pandemia" da covid-19.
"Ao exercer novas pressões no sentido da subida dos preços dos produtos de base, causando novas ruturas de abastecimento e aumentando a incerteza, a guerra está a exacerbar os ventos contrários ao crescimento pré-existentes, que anteriormente se esperava que diminuíssem", argumenta o executivo comunitário.
Bruxelas admite ainda que o crescimento económico pode ficar ainda mais abaixo do projetado agora, apontando que "os riscos para a previsão da atividade económica e da inflação dependem fortemente da evolução da guerra, e especialmente do seu impacto nos mercados energéticos", além de que a pandemia da covid-19 "continua a ser um fator de risco".
"Para além destes riscos imediatos, a invasão russa da Ucrânia está a levar a uma dissociação económica da UE em relação à Rússia, com consequências difíceis de apreender plenamente nesta fase", sublinha a Comissão Europeia.
Por outro lado, Bruxelas estima que, "apesar dos custos das medidas para mitigar o impacto dos elevados preços da energia e apoiar as pessoas que fogem da Ucrânia, o défice governamental agregado na UE deverá diminuir ainda mais em 2022 e 2023, uma vez que as medidas temporárias de apoio no quadro da covid-19 continuam a ser retiradas".
"De 4,7% do PIB em 2021, prevê-se que o défice na UE desça para 3,6% do PIB em 2022 e 2,5% em 2023 e 3,7% e 2,5%, respetivamente, na zona euro", projeta Bruxelas.
Também em relação à dívida, as previsões da primavera do executivo comunitário apontam para que esta continue em trajetória descendente, apesar do atual contexto.
"Após ter diminuído em 2021 para cerca de 90% (97% na zona euro) do pico histórico de quase 92% do PIB em 2020 (quase 100% na zona euro), prevê-se que o rácio agregado da dívida em relação ao PIB da UE diminua para cerca de 87% em 2022 e 85% em 2023, e 95% e 93% na zona euro, respetivamente", permanecendo ainda assim acima do nível anterior à pandemia, estima Bruxelas.
Num primeiro comentário a estas novas previsões económicas, o vice-presidente executivo da Comissão Valdis Dombrovskis admitiu que "não restam dúvidas de que a economia da UE está a atravessar um período desafiante devido à guerra da Rússia contra a Ucrânia", o que forçou a uma revisão em baixa das projeções da Comissão.
"O fator negativo esmagador é o aumento dos preços da energia, que leva a inflação a atingir níveis recorde e a colocar uma pressão sobre as empresas e as famílias europeias. Embora o crescimento vá continuar este ano e no próximo, será muito mais moderado do que se esperava anteriormente", disse, acrescentando que "a incerteza e os riscos para as perspetivas permanecerão elevados enquanto a agressão da Rússia continuar".
Também o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, observou que "a invasão russa da Ucrânia está a causar sofrimento e destruição incalculáveis, mas está também a pesar na recuperação económica da Europa", admitindo igualmente que os efeitos do conflito podem levar a que o crescimento económico seja ainda mais reduzido e a inflação mais elevada do que agora previsto.