Bruxelas divulga hoje previsões económicas que já devem reflectir efeitos da guerra
A Comissão Europeia divulga hoje as previsões económicas de primavera, que já deverão refletir as consequências da guerra da Ucrânia, causadas pela invasão russa, esperando-se uma revisão em baixa do crescimento na União Europeia (UE) e zona euro.
A apresentação será feita em conferência de imprensa, em Bruxelas, pelo comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, a partir das 11:00 (hora local, menos uma em Lisboa).
Paolo Gentiloni já veio reconhecer que as anteriores previsões de crescimento de 4% da economia do euro e da UE em 2022 são "excessivamente otimistas" devido aos impactos económicos da guerra ucraniana, à crise energética e ao aumento dos preços, admitindo uma revisão em baixa.
Em altura de confronto armado em território ucraniano devido à ofensiva russa, o responsável europeu da tutela reconheceu que, por isso, "existem várias formas através das quais o PIB [da zona euro e da UE] será afetado", em declarações feitas no final de março.
Nas anteriores previsões intercalares de inverno, divulgadas em fevereiro, a Comissão Europeia reviu em ligeira baixa o crescimento da economia europeia para este ano, para 4% do Produto Interno Bruto (PIB), tanto na zona euro como na UE, devido ao abrandamento no inverno provocado pela variante Ómicron do SARS-CoV-2, que causa a covid-19.
Bruxelas estimou ainda que o ritmo de crescimento económico desacelere para 2,7% na zona euro e 2,8% na UE.
Agora, apesar de a situação epidemiológica da covid-19 estar estável, a economia europeia está a ser desafiada pelas consequências económicas da guerra da Ucrânia, que já veio acentuar a crise energética da UE e pressionar os preços pelos problemas nas cadeias de abastecimento.
Por isso, já no início de março, por ocasião da apresentação das orientações de política orçamental para o próximo ano, a Comissão Europeia admitiu que a invasão militar da Ucrânia pela Rússia terá consequências económicas na Europa e poderá colocar em questão o anunciado regresso às regras de disciplina orçamental em 2023.
Depois de, ao longo dos últimos meses, o executivo comunitário ter afastado a possibilidade de prolongar além de 2022 a suspensão temporária das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), ativada há dois anos devido à pandemia da covid-19, em março reconheceu pela primeira vez que, face à incerteza provocada pela guerra na Ucrânia, será necessário reavaliar a esperada desativação da cláusula de escape no próximo ano.
Bruxelas admitiu designadamente que a guerra e possíveis retaliações da Rússia às sanções impostas pela UE, assim como o efeito 'ricochete' destas, tenham um impacto negativo no crescimento, com repercussões nos mercados financeiros, pressões sobre os preços da energia, estrangulamentos da cadeia de abastecimento e efeitos na confiança.
Com base nas previsões macroeconómicas de hoje, a Comissão Europeia fará então uma reavaliação da desativação da cláusula de escape, ou de salvaguarda, que suspende temporariamente as regras do PEC que exigem que a dívida pública dos Estados-membros não supere os 60% do PIB e impõem um défice abaixo da fasquia dos 3%.