Análise

Nova face na era sem máscara

Agressividade Insular deu lugar a posturas conciliadoras. O que os fez mudar?

Alguns políticos regionais assumiram posturas conciliadoras na última semana, porventura determinados a deixar boa impressão na opinião pública, a calar vozes incómodas nos partidos que representam e a arrepiar caminho rumo às eleições de 2023, para que não se repitam dissabores recentes.

Na relação da Região com a República há um notório esforço em nome de uma maior proximidade entre governos, normalização institucional que se espera possa favorecer a resolução de assuntos pendentes, sem prejuízo do interesse nacional e das aspirações insulares. E foi vê-los, os socialistas, disponíveis para prolongar por dois anos, até Dezembro de 2023, o prazo para a emissão de licenças para operar no Centro Internacional de Negócios, para beneficiar os concelhos mais desfavorecidos e para apoiar a internacionalização das empresas regionais, enquanto os deputados do PSD-M participavam em reuniões com ministros, prontos para alterar o sentido de voto no OE, caso algumas das propostas madeirenses sejam aprovadas na especialidade. O empenho de uns e de outros, mais no essencial do que na espectacularidade da aparição mediática, e sem perda de margem de manobra política interna, é um importante sinal dos tempos.

Na relação com o PSD nacional, os social-democratas madeirenses inovaram, pondo em prática uma sugestão deixada por Miguel de Sousa no último congresso regional que aqui recordamos: “Temos de ter o nosso candidato e ele fica a saber que nos deve a liderança... Deixemo-nos de brincar às eleições para a liderança do PSD. Nesta matéria, a Comissão Política Regional escolhe o candidato a ser apoiado e, todos nós, militantes, seguimos essa indicação. Não há escolhas pessoais”. E assim foi, anteontem, com a Comissão Política a aprovar, por unanimidade, o apoio à candidatura de Luís Montenegro à liderança do partido, embora dando liberdade de voto aos militantes nas eleições directas agendadas para 28 de Maio. Isto depois dos ‘montenegristas’ terem visto Miguel Albuquerque ser escolhido para mandatário nacional, tarefa que na Região cabe a Pedro Calado, não se sabendo o alcance da inusitada duplicação “em matéria de compromisso a favor da Madeira e dos madeirenses”.

Na relação com os cidadãos, a propósito da gestão pandémica, a contestada teimosia deu lugar ao bom senso. O Governo fez saber que não “muda os planos” de alívio das medidas de combate à covid-19 só porque foi registada a primeira amostra da variante BA.5. Pedro Ramos argumentou que a decisão de manter as medidas delineadas se baseia em factores como “o número de internamentos ser cada vez menor, a mortalidade ou letalidade da doença relacionada com a doença estar abaixo daquilo que eram as previsões da Organização Mundial de Saúde e o Rt ser o mais baixo do país, 0.86”. Por isso, a partir de hoje, deixa de haver obrigatoriedade do uso de máscara nos espaços interiores, embora, devido a algumas excepções, convenha andar sempre com protecção por perto.

Como é óbvio, nem só de inéditos se fez a política incapaz de ser superior e que preferiu deleitar-se com insultos na Assembleia Legislativa do que com intervenções incisivas motivadas por erros de cálculo, palpites falhados e mentiras compulsivas. Mas isso é mais do mesmo, pelos vistos, e por enquanto, sem emenda, nem castigo.