Crónicas

Inteligência Emocional

O mais importante da nossa vida são as pessoas com quem partilhamos os nossos momentos. Também elas são determinantes para definir a qualidade dos mesmos

O fascínio das relações humanas e interpessoais e a forma como elas impactam determinados momentos da nossa vida. O tema não é novo mas é sem dúvida dos enigmas mais desafiantes da sociedade atual. A forma como as pessoas se comportam umas com as outras, as escolhas e as químicas, a atração e o desejo, o desprezo e a desilusão. O facto de determinadas pessoas nos dizerem tanto num determinado momento e depois pura e simplesmente deixarem de fazer sentido. As que entram de rompante e têm o condão de desarrumar completamente as nossas dinâmicas. Os que sempre estiveram ali mas não nos dizem absolutamente nada e os que em dois segundos nos dizem absolutamente tudo. Os que só estão por interesse e por isso vão estando e não estando conforme se vai cosendo de sucesso ou insucesso o nosso percurso. Os que nos dão tudo e nós nem prestamos atenção e os que recebem tudo de nós e nos dão quase nada. Os que nos preenchem e completam e os que nos esvaziam.

Quem acha que o dinheiro é a coisa mais importante da vida tem as prioridades todas trocadas. O mais importante da nossa vida são as pessoas com quem partilhamos os nossos momentos. Também elas são determinantes para definir a qualidade dos mesmos. Quantas vezes não frustámos as nossas expectativas em relação a alguém? E quantas outras alguém nos revolucionou o dia para melhor? É por todos esses motivos que a inteligência emocional vai assumindo um papel cada vez mais estruturante na nossa forma de pensar e de agir. Isso revela-se nos mais pequenos detalhes do nosso dia a dia. A sensibilidade que demonstramos, a atenção, os afetos, o respeito. A capacidade de perceber ou antecipar o que os outros estão a sentir ou a pensar, através da lógica e de padrões comportamentais, mas também o savoir-faire de atrair através dos sentidos e das emoções.

Esta forma de inteligência torna-se ainda mais evidente e perceptível numa sociedade cada vez mais plástica e robotizada. Em que as pessoas mostram o que não são, vivem vidas que não são as suas e invejam outras que nem são verdadeiras, encarnam personagens e metem a genuinidade no bolso. Habituaram-se a construir imagens de uma suposta felicidade que não existe, só para serem aceites em determinados grupos ou comunidades. Esta dissimulação permanente acaba por criar armadilhas e jogos de sombras seja em contexto profissional ou pessoal, o que torna mais difícil e muitas das vezes errónea a avaliação que é feita, levando muitas vezes a desilusões, frustrações e quebras de confiança. Isso deve-se ao facto de as pessoas hoje em dia terem estas três dimensões que se misturam e muitas vezes se confundem, aquilo que elas realmente são, aquilo que elas gostavam de ser e a imagem que transparecem para fora.

Voltando ao lado positivo da história e falando da parte mágica das relações humanas, a verdade é que não existe felicidade sem pessoas, é por isso que é um mundo tão complexo mas paradoxalmente fascinante, o de termos a capacidade de nos envolvermos com alguém, de nos identificarmos através de gestos ou de momentos que nos marcam, de nos sentirmos atraídos através de uma espécie de corrente de energia que nos puxa com toda força. Essa química de que tanto se fala é no fundo o reflexo da intensidade sentida em perfeito equilíbrio. Dar e receber. Sentir e dar sentido a alguém. Não há nada mais verdadeiro e real do que duas pessoas que se gostam e se querem bem. Seja no amor ou na amizade. É a filigrana dos sentimentos. A palavra “cumplicidade” define quase tudo isso. Gente que se entende com um olhar, que se encontra no meio da multidão e se procura nos sonhos.

Ainda há por aí muita gente com dificuldade em mostrar os seus sentimentos, que acham que essa coisa da sensibilidade é para as mulheres, que a inteligência emocional é algo secundário e dispensável quando se é culto ou erudito. A realidade porém mostra-nos o contrário. Ter a perspicácia para saber ler os outros, a ousadia de os tratar bem e a sabedoria para compreender quem está à nossa frente ou quem caminha ao nosso lado é cada vez mais uma ponte para o sucesso mas também ( e sobretudo ) para a felicidade.