Novo líder da Ossétia do Sul questiona referendo sobre adesão à Rússia
O presidente da região separatista da Ossétia do Sul situada na Geórgia, ex-república soviética do Cáucaso do Sul, Alán Gaglóyev, questionou hoje a convocação para julho de um referendo sobre a integração na Rússia.
"Chegou o momento histórico de emitir um decreto sobre um referendo e forçá-lo a ser realizado?", questinou Gagloyev em declarações à imprensa russa.
Em causa está o referendo convocado para 17 de julho que resulta de um decreto emitido, na sexta-feira, pelo presidente cessante, Anatoly Bibilov.
"Apoia a unificação entre a Ossétia do Sul e a Rússia?", é a pergunta a que cerca de 50.000 ossetas deverão responder.
Recentemente, Bibilov disse à agência noticiosa Efe que pretendia convocar um referendo de integração, argumentando que "a Rússia é a pátria histórica dos ossetas".
O antigo presidente pediu que a oportunidade não fosse desperdiçada, como aconteceu em 2014, quando Moscovo anexou a península ucraniana da Crimeia.
"O referendo não será uma complicação, já que mostrará ao mundo que estamos com a Rússia. E em particular agora, quando muitos países, incluindo grandes potências, lhe viraram as costas", disse.
A este propósito, Anatoly Bibilov confirmou na sexta-feira, através do seu canal na rede Telegram, que a Comissão Eleitoral Central da República do Cáucaso aprovou "por unanimidade" a adesão à Rússia.
No entanto, o novo líder, Alan Gagloyev, referiu hoje que o acordo que rege as relações entre Moscovo e Tsjinvali (capital da Ossétia do Sul) desde que o Kremlin reconheceu a independência desta região.
"Surge a questão: Anatoli Bibilov cumpriu o que está estipulado no acordo? Coordenou a sua decisão com as autoridades da Federação Russa?", disse Gagloyev, acusando o presidente cessante de não o ter consultado sobre o anúncio do referendo.
Ao mesmo tempo em que apoiava a reunificação do povo da Ossétia na Rússia, advertiu que o referendo de julho poderia sofrer o mesmo destino do referendo realizado em 1992 após a queda da União Soviética, uma consulta que recebeu o apoio de 98% dos inquiridos para a integração na Federação Russa, mas não teve consequências jurídicas vinculativas.
Paralelamente, Gagloyev garantiu que, em relação ao referendo anunciado, terá em conta o cumprimento do direito internacional e dos acordos com a Rússia.
A Comissão Eleitoral Central confirmou hoje a vitória de Gagloyev sobre Bibilov na segunda volta das eleições presidenciais com 56,09% dos votos.
Recentemente, Gagloyev aludiu à difícil posição em que se encontra "a Rússia, aliado estratégico", que "conduz uma operação especial na Ucrânia para a eliminação das formações neonazis".
A Ossétia do Sul, cuja independência foi reconhecida pelo Kremlin em agosto de 2008 após uma guerra com a Geórgia, optou por não promover a integração quando a Rússia anexou a península da Crimeia em 2014.
Desde 2008 que o território é um protetorado russo, onde Moscovo possui uma base militar e cujo orçamento depende em 90% dos cofres da Rússia.
A Ossétia do Sul, um território onde vivem cerca de 50.000 pessoas, enviou várias centenas de voluntários para lutar nas fileiras do exército russo na Ucrânia.
Enquanto a Geórgia considera o referendo ilegítimo, o Kremlin disse que respeitará a vontade do povo sul-osseta.
Após integrar a federação russa, o próximo passo seria a unificação com a república russa da Ossétia do Norte numa única entidade federal.