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Rússia quer táxis a ceder dados dos passageiros aos serviços de segurança

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FOTO AFP

A Rússia quer obrigar os táxis a transferir dados em tempo real sobre os seus passageiros para os serviços de segurança russos (FSB), segundo um projeto de lei apresentado na câmara baixa do parlamento.

O documento governamental, publicado na quarta-feira à noite no website da Duma, diz que os serviços de táxi, que são populares na Rússia e utilizados através de aplicações móveis, serão obrigados a fornecer aos FSB acesso em tempo real às suas bases de dados de pedidos.

"Esta é uma medida muito difícil de implementar. Mas isso não significa que não seja necessário", disse Adalbi Shkhagochev, membro do comité de segurança e anticorrupção da Duma, à agência noticiosa russa Ria Novosti, sublinhando tratar-se de uma questão de "segurança" nacional.

Até agora, os FSB podiam obter esta informação se apresentassem um pedido formal às empresas, que tinham 30 dias para responder, segundo a presidente do Conselho Civil para o Desenvolvimento dos Táxis nas Regiões da Rússia, Irina Zaripova.

"Muitos temem que os FSB possam receber informações sobre passageiros em qualquer altura em tempo real", disse a responsável à estação de rádio russa Kommersant FM em finais de março, quando a ideia foi sugerida pela primeira vez pelo Ministério dos Transportes russo.

"Mas quando se trata de segurança nacional, muitas vezes há situações em que algo aconteceu e os agentes dos FSB precisam de ter estes dados praticamente dentro de uma hora para resolver um crime ou preveni-lo", explicou, assegurando que "ninguém vai estar a monitorizar estes dados de manhã à noite".

"Isto ultrapassa a linha. Ser seguido sem autorização... Prefiro não utilizar mais um táxi", comentou Yacha Aliev, um estudante de economia de 24 anos, à agência francesa AFP em Moscovo.

Kristina Kocheleva, uma funcionária de 23 anos da Yandex.Plus, disse ficar "desconfortável": "Mas penso que mesmo sem isto, eles já sabem tudo", referiu.

A Rússia aumentou ainda mais as restrições às liberdades civis desde o início da sua ofensiva na Ucrânia, a 24 de fevereiro.

Estas incluem bloquear o acesso às redes sociais populares Instagram, Facebook e Twitter e processar o grupo Meta, acusando-o de espalhar "incitações à morte" contra os russos.

O país também reforçou o seu arsenal legislativo, que permite pesadas multas ou penas de prisão para quem for considerado culpado de "desacreditar" os militares ou publicar "informações falsas" sobre os mesmos.