Refundar a Autonomia é mais do que uma metáfora
Metáfora, isso sim é uma metáfora, é a nossa Autonomia. Estamos acomodados e daqui não saímos, nem nos deixam ir mais além. Nestes quase cinquenta anos ganhámos o direito a chorar e gritar, coisa que Salazar nunca autorizou. Para além disso ganhámos ZERO
Miguel Albuquerque questionou se vale a pena a Madeira estar integrada na República.
Colocando de outro modo: a Madeira ser parte de Portugal é benéfico para os madeirenses?
Albuquerque é inteligente e não faria a pergunta se não tivesse certeza absoluta sobre a resposta. Se foi uma metáfora pretendeu dizer o mesmo por outras palavras.
Ora, metáfora é a representação simbólica de algo. Não muda o seu significado e alcance. Traduz por outras palavras um sentimento latente. Carrega no sentido pretendido.
Uma metáfora nunca procurou esconder a verdade desejada.
Não deve haver medo da palavra independência. Tem tanto significado para os outros como para nós.
Ser independente é estatuto sem “se” e sem “mas”. Ou se é ou não é. A autonomia já permite muitas considerações e perspectiva evolutiva. Pode sempre ser alargada ou retroceder face aos parâmetros anteriores.
Ser independente é ter bandeira? Hino? Parlamento?
Eleições, líderes políticos, deputados eleitos, cidade capital, orçamento, (etc) só existem com independência? Temos tudo isso e não somos independentes. Podes não ter nada disso e ser independente como, ter tudo isso, e não passar de um colonizado à medida da boa, ou má, disposição do “senhorio” de Lisboa.
Mas para haver independência será que se torna obrigatório ter moeda, governo, exército, tribunais, seleção de futebol, representante da República?
A independência é um estado de espírito, um sentimento próprio de cada um sobre a sua inserção num qualquer espaço constitucional próprio. Ou aceita ou rejeita.
METÁFORA, isso sim uma verdadeira metáfora, é a nossa AUTONOMIA.
Acomodámo-nos a um estatuto de autonomia que nunca nos satisfez. Temos algumas competências sem qualquer peso decisivo no nosso futuro que nos “enchem” de orgulho. Elegemos a nossa classe política que repete continuamente o guião inicial, batendo o pé a tudo o que não temos por falta de solidariedade central.
Ganhámos o direito a gritar e a chorar, coisa que Salazar nunca tinha autorizado. Quanto mais alto gritamos, pelo que nos falta e não temos, mais justa parece a insatisfação.
Uma resposta inequívoca à questão da metáfora autonómica e independentista foi-nos dada por um estudo, encomendado pela autoridade tributária nacional, sobre a continuidade da Zona Franca da Madeira.
É a primeira desfaçatez desta maioria absoluta. Outras virão.
Desde logo o estudo foi contratado, são eles próprios que o afirmam, sem que a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra a ele se tenha candidatado. Ir buscar ao interior continental um avaliador de situação específica insular é provocador e desprestigiante. Como quem nunca vê o mar pode olhar para um tema tão específico de uma ilha? É contratar no Congo equatorial especialistas para assuntos da geotermia polar.
Tanto quanto me apercebi nem os autores do estudo se deram à maçada de fazer uma visita à Madeira ou contactar, cara a cara, com a sua “inteligência”. Havia pressa em dar uma sentença. E sem eu saber como e onde podem ter como certo que o funeral está em preparação.
Com a benção de todos os que deixarem acabar com a Zona Franca da Madeira.
Foram poucos os que a ajudaram a criar e, agora, ainda vejo menos a evitar o pior.
Propor a continuidade desta Zona Franca é erro que só a ignorância pode permitir sugerir. De que servem, com o actual regime de benefícios, cem, quinhentas ou mil empresas? Mantém um patamar ridículo de actividade.
O actual contexto nada tem a ver com a perspectiva de 1980 e 1987. Insistir no mesmo insucesso é criminoso. Estamos agarrados a migalhas quando a expectativa devia ser inovadora e mobilizadora. A actual inércia colectiva será, mais cedo ou mais tarde, motivo de denúncia e condenação pública.
A Madeira podia viver dos serviços internacionais, financeiros e do registo de navios. Juntamente com o turismo teríamos o enquadramento económico e financeiro suficiente.
Só o secretismo em que tudo isto está envolto já é, por si só, razão para questionar e duvidar do que verdadeiramente acontece e está em causa.
A Zona Franca está morta e António Costa vai enterrá-la, nem que seja autorizando registos de novas empresas por mais um ou dois anos. Prolongar o coma é, neste caso, ainda mais grave do que praticar eutanásia.
Temos de pegar numa nova ideia de centro de serviços internacionais, também financeiros, e partir para um projecto líder e mobilizador. Algo competitivo no quadro europeu. Copiar não é feio.
Um projecto arrebatador como o era a Zona Franca da Madeira em 1980 e 1987. O problema é quem arranca com isso?
Desafio o governo da República a publicar o estudo da Universidade de Coimbra que alguma comunicação social resumiu.
Realmente Albuquerque esteve bem quando perguntou se devemos estar integrados em Portugal.
Nota: 1980 foi o ano da criação, por lei de Francisco Sá Carneiro, da Zona Franca da Madeira. 1987 foi o ano da publicação do primeiro regime de incentivos fiscais por Aníbal Cavaco Silva. Só os governos do PSD ajudaram. Os do PS foram sempre a tirar competitividade.
C. D. Nacional
Ninguém com responsabilidade no Clube fala, escreve ou faz desenhos. Tornou-se IRRELEVANTE!