Kremlin lamenta suspensão do Conselho de Direitos Humanos e promete "defender os seus interesses"
A Rússia lamentou hoje a sua suspensão do Conselho de Direitos Humanos da ONU e advertiu que pretende "continuar a defender os seus interesses por todos os meios legais".
"Estamos desolados e continuaremos a defender os nossos interesses por todos os meios legais e a explicar [a nossa posição]", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, à cadeia televisiva britânica Sky News.
Em simultâneo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo considerou "ilegal" a suspensão do país daquele organismo das Nações Unidas, indica um comunicado.
A Rússia considera esta suspensão "ilegal e politicamente motivada, destinada a punir de forma ostentatória um Estado-membro soberano da ONU que conduz uma política interna e externa independente".
A Rússia decidiu efetuar uma "retirada antecipada" deste Conselho, acrescentou a diplomacia russa.
"Infelizmente, nas condições atuais, o Conselho é praticamente monopolizado por um grupo de Estados que o utilizam para os seus próprios fins oportunistas", acrescenta o ministério.
A Assembleia-Geral suspendeu hoje a Rússia do seu lugar no Conselho de Direitos Humanos devido à invasão da Ucrânia, durante uma votação que obteve 93 votos a favor e que traduz uma fragmentação da unidade internacional face a Moscovo.
Entre os 193 países com assento na Assembleia-Geral, 24 votaram contra esta suspensão -- a segunda na história das Nações Unidas, após a proscrição da Líbia em 2011 -- e 58 abstiveram-se. No entanto, as abstenções não foram consideradas na necessária maioria de dois terços exigida, mas apenas os votos a favor e contra.
Na entrevista á estação televisiva britânica, o porta-voz do Kremlin reconheceu "perdas importantes" do exército russo na Ucrânia, mas sem as quantificar.
"Registámos perdas militares importantes", declarou, acrescentando: "Para nós é uma imensa tragédia".
A Rússia permanece muito discreta sobre a amplitude das suas perdas desde o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro. O último balanço oficial, comunicado em 29 de março, referia 1.351 mortos e 3.825 feridos.
Interrogado, com imagens de apoio, sobre os abusos de que são acusados os soldados russos na cidade ucraniana de Bucha, onde foram detetados dezenas de cadáveres, o porta-voz voltou a refutar as acusações.
Confrontado com as imagens satélite que mostram corpos nas ruas, assegurou que foram colocados após a retirada das tropas russas da zona.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.611 civis, incluindo 131 crianças, e feriu 2.227, entre os quais 191 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,3 milhões para os países vizinhos.
Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.