Jornalistas ucranianos identificam alegados assassinos de civis em Bucha
Um grupo de jornalistas ucranianos garante ter conseguido identificar alguns dos alegados suspeitos de disparar sobre civis em Bucha, dizendo que pertencem a uma brigada naval do exército russo do Pacífico.
Jornalistas do 'site' de jornalismo de investigação ucraniano slidstvo.info, membro da Rede Global de Jornalismo de Investigação (GIJN), informaram que alguns dos alegados autores das mortes de civis ucranianos já admitiram os seus atos.
Os membros da 155.ª brigada são oriundos de Vladivostok, no leste da Rússia, e esse grupo de soldados está a ser responsabilizado por crimes de genocídio em Bucha e em Irpin e Gostomel pelas autoridades militares ucranianas, acrescenta o 'site' noticioso.
A descoberta de centenas de corpos civis em Bucha foi condenada pelos países ocidentais e, hoje, a Assembleia Geral da ONU reúne-se em Nova Iorque para votar o pedido de suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos daquela organização.
As autoridades ucranianas descobriram no fim de semana centenas de corpos com roupas civis em Bucha, a noroeste de Kiev, após a retirada das tropas russas, a quem atribuíram a responsabilidade. Algumas imagens mostram cadáveres na rua, alguns com as mãos amarradas às costas, parcialmente mutilados ou lançados em valas comuns.
O Kremlin rejeitou "categoricamente" todas as acusações relacionadas, alegando que as imagens divulgadas eram "falsas".
Jornalistas do slidstvo.info identificaram o marinheiro Mikhail Tkach, de 20 anos, nascido em Vladivostok, que chegou à Ucrânia em fevereiro e de quem obteve citações, de uma entrevista, que foram já divulgadas na rede social russa Vkontakte.
Nessa entrevista, em resposta a uma acusação de ser "fascista", o militar respondeu: "Estou vivo. Não apenas vivo, mas estou a esmagar o vosso povo. Transportem convosco o vosso passaporte de plástico para que, quando eu roubar os assassinados, eles possam ser identificados".
Os jornalistas também identificaram Aleksey Gaskov, de 20 anos, nascido na república russa de Buriácia e que se alistou alguns anos depois de terminar os seus estudos escolares em 2017, tendo aderido ao Yunarmiya, um movimento inspirado na Juventude Hitleriana do regime da Alemanha nazi.
Os jornalistas identificaram ainda o sargento Aleksey Skulkin, de 33 anos, que é membro do exército russo há 15 anos e que supostamente participou na guerra da Síria como parte do apoio russo ao regime de Bashar al-Assad.
Destes soldados, assim como de outros pertencentes à referida brigada, o 'site' jornalístico ucraniano disponibiliza fotografias, bem como de familiares, obtidas a partir de publicações dos próprios militares nas redes sociais.
Os jornalistas do slidstvo.info afirmam que a referida brigada russa perdeu "aproximadamente metade dos seus membros" na Ucrânia, citando dados do exército ucraniano.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.563 civis, incluindo 130 crianças, e feriu 2.213, entre os quais 188 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,2 milhões para os países vizinhos.
Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.