Mundo

EUA desmantelam rede de 'bots' supostamente controlada por serviços secretos russos

Procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland
Procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland

O Governo dos Estados Unidos anunciou quarta-feira ter desmantelado uma rede de 'bots' supostamente controlada pela agência de serviços secretos militares russa, a GRU, que terá infetado milhares de dispositivos de 'hardware'.

'Bots', uma abreviatura de 'robots' -- ou robôs, em português -, são aplicações informáticas desenvolvidas para simular a ação humana na internet, de forma padronizada e repetida.

O procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, deu hoje uma conferência de imprensa conjunta com o diretor do FBI (polícia federal norte-americana), Christopher Wray, para fornecer mais pormenores sobre o assunto.

"Felizmente, conseguimos desmantelar esta rede de 'bots' antes de ela poder ser utilizada. Graças ao nosso trabalho em estreita colaboração com parceiros internacionais, conseguimos detetar a infeção de milhares de dispositivos de 'hardware' na rede", disse Garland.

O titular da pasta da Justiça na administração do Presidente Joe Biden recordou que "recentemente, o Governo russo utilizou uma infraestrutura semelhante para atacar alvos ucranianos".

Garland revelou igualmente que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou o oligarca russo Konstantin Malofeyev de violar as sanções impostas à Rússia.

"Como a acusação indica, o Departamento do Tesouro tinha já identificado Malofeyev como uma das principais fontes de financiamento dos russos que promovem o separatismo na Crimeia e fornecem apoio material à autodenominada 'República Popular de Donetsk'", precisou.

O procurador-geral sublinhou que, depois de ser sancionado pelos Estados Unidos, Malofeyev tentou, através de colaboradores, contornar as sanções para adquirir e administrar meios de comunicação na Europa.

Este anúncio de Garland surgiu ao mesmo tempo que a Casa Branca informava sobre uma nova série de sanções contra a Rússia após o massacre na cidade ucraniana de Bucha, a noroeste de Kiev, onde foram encontrados centenas de civis mortos nas ruas e em valas comuns, após a retirada das tropas russas.

Washington sancionou hoje Maria e Katerina, as duas filhas do Presidente russo, Vladimir Putin; a mulher e a filha do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov; e membros do Conselho de Segurança da Rússia, entre os quais figuram o ex-primeiro-ministro Dmitri Medvedev e o chefe do atual Governo, Mikhail Mishustin.

Os Estados Unidos proibiram também, juntamente com os seus aliados ocidentais, novos investimentos na Rússia e intensificaram as sanções contra os dois principais bancos, Sberbank e Alfa Bank.

Na terça-feira, o Departamento do Tesouro norte-americano já tinha imposto sanções a duas das maiores plataformas que abrigam organizações cibercriminosas e permitem que estas operem a partir da Rússia, ao mercado negro Hydra Merket e à casa de câmbios de moeda virtual Garantex.

Na sua conferência de imprensa, Garland quis enviar uma mensagem "a quem continua a permitir que o regime russo prossiga a sua conduta criminosa".

"Independentemente da distância para onde naveguem com os seus iates, de quão bem escondam os seus bens, de quão habilmente escrevam o seu 'malware' ou ocultem a sua atividade 'online', o Departamento de Justiça usará todos os meios disponíveis para encontrá-los, frustrar as suas conspirações e fazer com que prestem contas", advertiu o responsável.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, mais de 4,2 milhões das quais para os países vizinhos, de acordo com os mais recentes dados da ONU -- a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa -- justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 42.º dia, causou um número ainda por determinar de mortos civis e militares e, embora admitindo que "os números reais são consideravelmente mais elevados", a organização confirmou hoje pelo menos 1.563 mortos, incluindo 130 crianças, e 2.213 feridos entre a população civil.