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Confinamentos impedem tratamento de outras doenças na China

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A China deve respeitar o direito de acesso a cuidados de saúde e outros direitos básicos, enquanto combate surtos de covid-19 com medidas altamente restritivas, defendeu hoje uma organização de defesa dos direitos humanos.

Em Xangai, a 'capital' financeira e a cidade mais populosa da China, as autoridades impuseram um bloqueio total, que limitou o acesso dos habitantes a cuidados de saúde, alimentos e outras necessidades básicas.

Várias pessoas morreram devido à negação sistemática do acesso a cuidados de saúde a pessoas com doenças graves não relacionadas à covid-19", afirmou, num relatório, Wang Yaqiu, pesquisador para a China na organização não-governamental (ONG) Observatório dos Direitos Humanos.

Nas redes sociais chinesas, multiplicaram-se os relatos de moradores cujos familiares tiveram acesso negado a cuidados médicos, devido às restrições à mobilidade ou à falta de profissionais de saúde.

As autoridades negaram também o atendimento a alguns pacientes por estarem infetados ou por não terem prova de um teste negativo para o novo coronavírus.

Uma enfermeira de Xangai, Zhou Shengni, morreu de asma, depois de lhe ter sido negado o acesso ao hospital onde trabalhava. Noutro caso, uma mulher morreu depois de não poder fazer hemodiálise, porque foi impedida de sair do seu complexo residencial.

"O objetivo final das autoridades deve ser tratar a saúde dos cidadãos, e não manter a taxa de infeções por covid-19 a zero", argumentou Wang Yaqiu.

Na segunda-feira, as autoridades de Xangai disseram que a cidade permaneceria indefinidamente fechada -- o que significa que os moradores não podem sair das suas casas -- durante a realização de uma campanha de testes em massa.

As autoridades separaram também, à força, crianças pequenas, que testaram positivo, dos seus pais, sob a restritiva política de isolamento em instalações médicas designadas de todos os casos do novo coronavírus, mesmo que assintomáticos.

Um vídeo que se tornou viral mostrou dezenas de crianças e bebés amontoados em camas, com barras de metal, numa instalação em Xangai.

Várias mães de crianças pequenas contaram à imprensa, ou escreveram nas redes sociais, que foram impedidas de visitar os seus filhos.

Em resposta à indignação pública, as autoridades de Xangai defenderam a política, afirmando que qualquer pessoa que teste positivo -- independentemente da idade -- deve ser isolada de pessoas não infetadas.

O Observatório dos Direitos Humanos lembra que a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, da qual a China é parte, afirma que "uma criança não deve ser separada dos seus pais contra a vontade deles, exceto quando as autoridades competentes, sujeitas a revisão judicial, determinarem, de acordo com as lei e procedimentos, que tal separação é necessária, no melhor interesse da criança".

O Governo chinês continua a travar o fluxo de informações sobre a pandemia e a censurar as críticas à política de 'zero casos', acrescentou a organização não-governamental.

Um vídeo que circula na rede social chinesa Weibo mostra jornalistas da imprensa oficial a recusarem entrevistar donos de lojas que não receberam apoios do governo. Um jornalista disse que "apenas aqueles que receberam ajuda podem ser entrevistados".

"Negar os direitos humanos das pessoas devido ao aumento de casos de covid-19 é contraproducente", afirmou Wang Yaqiu.