COP27, pelo clima e pela paz
A degradação geral do ambiente, a diminuição da qualidade de vida e a pobreza crescem
A urgência climática, que vinha dominando a agenda mundial no sentido de encontrar um caminho para a exigente meta de manter aumento da temperatura média global abaixo dos 1,5ªC, foi dramaticamente suplantada, quer pela pandemia COVID19, quer pela recente guerra na Ucrânia. Aquilo que já era difícil em condições “normais” torna-se quase impossível no pós-COVID19 e, em particular, com o que se tem visto desde o início do conflicto russo-ucrâniano, que parece, lamentavelmente, que durará ainda por demasiado tempo.
A crise energética, a subida de preços de matérias primas e alimentação, e a incerteza dos mercados associada a toda esta turbulência retiram das prioridades ações e preocupações fundamentais para o cumprimento do Acordo de Paris e do Pacto de Glasgow, este último o modesto lavar de cara das Parte das Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas na sua 26º Conferência.
Em Novembro deste ano a COPP27, no Egipto, poderá não passar de um momento de frustração global, com o reconhecimento do falhanço das metas previstas para 2050, uma vez que não será possível comprar tempo para cumprir investimentos à escala do que seria necessário para reverter a marcha do aquecimento global.
A alternativa requer um esforço suplementar, seja na manutenção de uma expectativa optimista, mobilizadora e capaz de evidenciar sinais concertos, positivos, no sentido do que há muito se propõe, seja no compromisso de investimento e na mudança que se exige. Tecnologias na área da produção capazes de satisfazer as necessidades sem que isso implique uma escalada de preço sem controlo, eliminando o paradoxo de vivermos um tempo em que os combustíveis fósseis batem recordes de preços e de lucros. Não é possível acreditar em mudança de paradigma perante a realidade dos sistemas de mercado energético que promovem tudo menos a proclamada transição justa, sem deixar ninguém para trás. Governos e reguladores terão que fazer muito mais do que têm feito até aqui, de modo mais transparente, ético e verdadeiramente direcionado para o interesse comum. O clima e as pessoas agradecem e merecem melhor porque no fim de contas são elas, enquanto famílias ou empresas, que assumem a factura. A da energia e também a ambiental. A degradação geral do ambiente, a diminuição da qualidade de vida e a pobreza crescem, a nível mundial, como nunca. Presumivelmente é demasiado tarde para a meta que pretende limitar o aumento da temperatura global em 1,5ºC até 2050 mas é possível pensar em minimizar ao máximo essa infracção. Não o fazendo, estaremos a conduzir o planeta para uma turbulência muito semelhante ao de uma guerra à escala planetária, em que o número de vítimas humanas será incomparavelmente maior ao de qualquer guerra conhecida. A COP 27, no Egipto é por isso um momento vital para o clima e para a paz. Saibam os governos preparar-se e explicar a cada um dos seus povos, antecipadamente, o que lá irão fazer, sem ser o passar a culpa para a esfera difusa do conglemerado difuso que mais não é senão cada um deles.