Provas de massacres em Busha e Kiev têm de ser preservadas
A alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos defendeu hoje que sejam preservadas todas as provas dos aparentes massacres de civis na cidade ucraniana de Busha e nos arredores de Kiev, a fim de se estabelecerem responsabilidades.
"As informações que estão a surgir desta zona e de outros lugares levantam questões sérias e preocupantes sobre possíveis crimes de guerra e graves violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos", sublinhou Michelle Bachelet, em comunicado hoje divulgado.
Admitindo "estar horrorizada" com as imagens dos cadáveres nas ruas de Busha, a alta-comissária referiu ser necessário que "todos os corpos sejam exumados e identificados" para permitir informar as famílias das vítimas e determinar as causas exatas da morte.
Dezenas de civis mortos foram encontrados em Busha, uma cidade a 60 quilómetros de Kiev, espalhados na rua, nalguns casos com as mãos amarradas nas costas e atirados em valas comuns, tendo as autoridades ucranianas e os seus aliados acusado os soldados russos de terem cometido esses crimes.
Moscovo rejeitou em absoluto qualquer responsabilidade e disse que foi feita uma encenação por Kiev.
Algumas imagens foram mostradas depois de as autoridades terem admitido estarem a fazer vídeos para documentar as evidências dos alegados crimes de guerra, provocando uma condenação internacional quase unânime.
O conselheiro do Presidente ucraniano Oleksiy Arestovych considerou as imagens como uma "cena de um filme de terror", referindo que algumas pessoas estavam amarradas e baleadas na cabeça e os corpos mostravam sinais de tortura, existindo ainda relatos de violações.
"É vital realizar uma investigação independente e eficaz" sobre o que aconteceu em Busha, sublinhou a alta-comissária da ONU.
A Ucrânia já tinha acusado a Rússia de cometer um "massacre deliberado" em Busha e outros "horrores" nas regiões que, entretanto, foram libertadas.
"Isto está a acontecer na Europa e no século XXI", sublinhou, no domingo, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sublinhando que "toda a nação está a ser torturada".
A Rússia lançou, na madrugada de 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.276 civis, incluindo 115 crianças, e feriu 1.981, entre os quais 160 crianças, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 4,21 milhões de refugiados para os países vizinhos e cerca de 6,5 milhões de deslocados internos.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.