Liberdade hipotecada financeiramente
Que vivemos melhor que há 48 anos, acho que poucos duvidam, temos mais condições de vida, melhores oportunidades e mais liberdade, mas, analisando bem, temos mesmo mais liberdade? Para sermos livres, não temos de ter vencimentos que nos permitam o desafogo financeiro suficiente para dormirmos em paz e fazermos uma vida livre?
Veja-se por exemplo o divórcio.
Foi o divórcio efetivamente legalizado em 1910, com o Decreto de 3 de novembro, menos de um mês após a proclamação da República e toda a gente teve a liberdade para romper com o casamento e seguir com a sua vida, e hoje, isso é legal? Claro que sim, já é até um não assunto, mas, é possível se divorciar hoje em dia, havendo vontade? Se calhar, já não será bem assim.
Por exemplo, o João é casado com a Joana há 17 anos. Cada um ganha 750 euros mensais e têm dois filhos. Dos 1500 euros auferidos, 650 euros são para pagar a renda de um T2, restando 850 para enfrentar o resto do mês, pagando contas e despesas dos filhos. Entretanto a relação do João e da Joana chegou ao fim, a toxidade tomou o lugar do amor e mal conseguem olhar para a cara um do outro, sendo que a solução normal seria o divorcio, mas como?
Se optarem pelo divórcio, cada um terá de pagar casa, sendo que o que ficar sem os filhos, terá de pagar, pelo menos, 400 euros por um T0, abdicando de ter os seus filhos ao fim de semana por falta de condições, e ainda terá de dar cerca de 200 euros de pensão de alimentos, ficando com 150 euros para enfrentar a vida. Quem fica com a casa e filhos, irá somar os 200 euros de pensão de alimentação aos 750 euros de ordenados, fazendo o total de 950 euros, sendo 650 euros para a renda de casa, sobram 300 para 3 pessoas viverem durante um mês. É legal o divórcio? Claro que sim? É possível? Só se quiserem condenar-se a si próprios e aos filhos a passar fome.
Os ordenados pagos em Portugal além de condenarem qualquer hipótese de termos qualidade de vida, condenam, e muito a nossa liberdade. 80% da população não é feliz, não é livre, apenas sobrevive.
José Abreu