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Órgãos de comunicação cristãos não devem recear revolução digital

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O presidente do Dicastério da Comunicação da Santa Sé, Paolo Ruffini, defendeu ontem que os órgãos de informação cristãos não podem "encarar com receios a revolução digital".

Os meios digitais devem ser encarados como privilegiados para chegar mais próximo das pessoas, com destaque para a internet e as redes sociais, sendo necessário "usar todas as linguagens possíveis", num "tempo veloz" em que é imperioso que as pessoas não se deixem "paralisar pelo medo", que é sempre "um mau conselheiro", disse Paolo Ruffini, na III Jornada de Comunicação do Santuário de Fátima.

"A crise maior que atravessamos é a do bom-senso", com a crise económica e a guerra a mostrarem que "sem o nosso testemunho [jornalistas cristãos], o mundo de amanhã não será necessariamente melhor que o de hoje", sublinhou.

Defendendo que "a comunicação cristã tem de estar ligada à vida", Paolo Ruffini reforçou que "a revolução digital não deve causar medo" e que é necessário falar a linguagem deste tempo.

"A Internet não significa a morte dos meios tradicionais", devendo ser "aproveitadas das redes para criar uma nova imaginação cristã na comunicação", frisou o responsável pelo Dicastério da Comunicação do Vaticano.

Por seu turno, Felisbela Lopes, da Universidade do Minho, alertou que "fazer jornalismo hoje enfrenta muitas dificuldades", nomeadamente, tendo em conta que "o jornalista não vê o que quer, vê o que lhe mostram".

A criação de uma agenda alternativa, a promoção de uma responsabilidade de ética, dar voz e notoriedade a outras fontes e ir ao encontro de franjas sub-representadas foram alguns desafios que Felisbela Lopes deixou à imprensa cristã.

Subordinada ao tema O Mundo visto de Fátima - Jornadas no contexto do centenário do Jornal Voz da Fátima, o evento de hoje visou debater "a importância da imprensa de inspiração cristã na construção das sociedades".

Além de Paolo Ruffini e Felisbela Lopes, participaram na conferência, entre outros, Carlos Camponês, Felisbela Lopes, Pedro Jerónimo, Jorge Pedro Sousa, Joaquim Franco, Carmo Rodeia, Cátia Filipe e Octávio Carmo.

Na ocasião foi feita a antestreia da reportagem "Páginas de Fátima", do jornalista Joaquim Franco, permitindo "uma viagem que atravessa os cem anos do jornal, lendo as principais temáticas que ocuparam a atenção dos responsáveis pela linha editorial desta publicação".

Foi também apresentado "um estudo comparado da Voz da Fátima, onde se apresenta o perfil do leitor da Voz da Fátima e por correlação, do leitor da imprensa católica, através da participação de vários responsáveis das principais publicações da imprensa católica portuguesa".

Segundo a síntese preliminar deste estudo, apresentada por Cátia Filipe, do Gabinete de Comunicação do Santuário de Fátima, "os leitores da Voz da Fátima são, na sua maioria, mulheres, numa faixa etária acima dos 60 anos e com um nível de escolaridade que equivale ao ensino médio (entre o 9.º ano e a licenciatura)".

"Apesar de a maioria dos leitores residir em Portugal, sobretudo nos distritos do Porto, Braga e Bragança, a publicação chega a todos os distritos portugueses e também a díspares latitudes do globo, como as Antilhas Holandesas, África do Sul, Alemanha, Angola, Argentina, Austrália e, desde o ano de 2000, à República Centro Africana", segundo informação disponibilizada na página do Santuário na Internet.

Os inquéritos permitiram perceber, também, que os temas que mais interessam aos leitores "são as iniciativas do Santuário de Fátima, seguindo-se as notícias sobre Nossa Senhora de Fátima no Mundo e as notícias relacionadas com a Igreja".

O estudo aprofundado será tornado público na publicação que assinalará o centenário da Voz da Fátima, em outubro deste ano.

O primeiro número da Voz da Fátima foi publicado em 13 de outubro de 1922.

A publicação surgiu "como meio de contacto com os peregrinos" e pela necessidade "de dar a conhecer a vida do Santuário, mas igualmente do desejo de difundir a mensagem de Fátima", como reconheceu já o reitor do Santuário, padre Carlos Cabecinhas.

Segundo o reitor, "não é possível fazer a história de Fátima -- mensagem, protagonistas e vida do santuário -- sem passar pelas páginas do jornal. Aí encontramos os relatos das grandes peregrinações, o testemunho dos grandes momentos de Fátima, a preparação e o acompanhamento das visitas dos Papas e de outras figuras relevantes da Igreja".

A decisão de criar o jornal foi tomada em 04 de maio de 1922, por uma Comissão Canónica criada pelo então bispo de Leiria, José Alves Correia da Silva, e a publicação teria a finalidade de publicar todas as notícias e informações relativas aos acontecimentos de Fátima e, em concreto, as aparições.

O primeiro número da Voz da Fátima teve uma tiragem inicial de 6 mil exemplares, que chegou a aproximar-se dos 250 mil em 1954. Atualmente, a tiragem situa-se nos 62 mil exemplares, estando também disponível na página online do Santuário.

De distribuição gratuita, nunca interrompeu a sua publicação.

Assinalando o início do ano do centenário, o jornal aumentou já o número de páginas de 12 para 16.