A Guerra Mundo

Guterres pede investigação a crimes de guerra em visita a arredores de Kiev

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Foto EPA

O secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu hoje uma investigação a eventuais crimes de guerra na Ucrânia e lembrou-se da sua própria família enquanto visitava três das cidades mais atacadas pelas forças russas nos arredores de Kiev.

Em Bucha, que se tornou um símbolo das atrocidades da guerra em curso no território ucraniano depois de terem sido descobertos dezenas de cadáveres espalhados nas ruas após a retirada das tropas russas, Guterres defendeu uma investigação do Tribunal Penal Internacional, pedindo a cooperação de Moscovo.

"Quando vemos este lugar horrível, vemos como é importante ter uma investigação completa e estabelecer responsabilidades", disse Guterres, que se encontrou na terça-feira com o Presidente russo, Vladimir Putin, e está hoje em Kiev, onde se reunirá, à tarde, com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

"Apelo à Rússia para que concorde em cooperar com o Tribunal Penal Internacional (TPI)", acrescentou.

Os ucranianos acusam os russos de terem massacrado civis em várias cidades em redor de Kiev, nomeadamente Bucha, Borodianka e Irpin, as três localidades onde Guterres escolheu deslocar-se hoje de manhã.

"Imagino a minha família numa destas casas destruídas e escurecidas", referiu enquanto passava por edifícios em ruínas em Borodianka.

"Vejo as minhas netas a correr em pânico. Uma guerra no século XXI é um absurdo, nenhuma guerra é aceitável no século XXI", defendeu, lembrando que "o pior dos crimes é a própria guerra".

Guterres seguiu depois para Irpin, onde os combates entre as forças russas e ucranianas foram particularmente sangrentos.

"Toda a gente deve lembrar-se sempre de uma coisa: em qualquer guerra, são sempre os civis que pagam o preço mais alto", disse, em frente a um prédio de apartamentos parcialmente destruído pelos bombardeamentos russos.

O secretário-geral da ONU chegou à Ucrânia na quarta-feira, depois de uma visita a Moscovo, onde pediu a Putin que coopere com a ONU para permitir a retirada de civis das áreas bombardeadas, nomeadamente no leste e sul da Ucrânia, onde as forças russas concentram a sua ofensiva.

Esta é a primeira visita do secretário-geral das Nações Unidas à Ucrânia desde o início do conflito e acontece numa altura em que António Guterres tem sido alvo de críticas pela sua alegada passividade em tomar medidas concretas para travar a guerra.

Guterres irá encontrar-se, hoje à tarde, com o Presidente da Ucrânia e com o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, marcando o final da visita à Ucrânia com uma conferência de imprensa conjunta.

A Rússia lançou, na madrugada de 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de 2.700 civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A guerra causou a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de 5,3 milhões das quais para os países vizinhos.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.