Guerra ainda não é ameaça directa à estabilidade financeira na zona euro
O Banco Central Europeu (BCE) garantiu hoje que as consequências da guerra ainda não são uma "ameaça direta" à estabilidade financeira da zona euro, com efeitos económicos "controláveis para o setor bancário" e sem escassez de liquidez.
"Até agora, as consequências da guerra não constituíram uma ameaça direta à estabilidade financeira. Os mercados financeiros têm sido altamente voláteis desde o início da invasão, mas continuam a funcionar de forma ordeira", declarou vice-presidente do BCE, Luis de Guindos.
Apresentando o relatório anual do ano passado do banco central perante a comissão de Assuntos Económicos do Parlamento Europeu, em Bruxelas, Luis de Guindos acrescentou que, "globalmente, os efeitos económicos imediatos da invasão russa têm sido geralmente controláveis para o setor bancário da zona euro, e o sistema bancário não tem registado qualquer escassez de liquidez".
"Ao mesmo tempo, as avaliações de mercado dos bancos diminuíram, mas isto refletiu principalmente preocupações mais vastas sobre uma perspetiva económica mais fraca à luz do aumento dos preços da energia e das matérias-primas e as associadas perspetivas mais baixas de rentabilidade dos bancos", explicou.
Segundo Luis de Guindos, "a exposição direta agregada do setor bancário da zona euro à Rússia é de qualquer modo limitada e concentrada e os bancos preocupados estão a tomar medidas para a reduzir ainda mais".
O mesmo acontece no setor financeiro não bancário, no qual a exposição direta aos ativos russos "é também limitada".
Certo é que "as instituições financeiras já incorreram em [...] perdas da dívida soberana externa russa denominada em dólares e euros, devido à queda do valor de mercado destes ativos", assinalou Luis de Guindos.
O "principal canal de transmissão de 'stress'" tem sido, por seu lado, o mercado de mercadorias, de acordo com o vice-presidente do BCE, já que os "preços elevados dos produtos de base aumentam as preocupações com a estabilidade financeira associadas à inflação elevada e ao baixo crescimento" e "a extrema volatilidade dos preços levou a alguma tensão".
"A invasão russa demonstrou como a Europa é vulnerável devido à sua elevada dependência das importações de combustíveis fósseis da Rússia [pelo que] acelerar a transição verde é, portanto, crucial, não só para enfrentar os urgentes desafios ambientais e climáticos que enfrentamos, mas também para ajudar a aumentar a nossa segurança energética e proteger a economia dos picos de preços da energia", concluiu.
As declarações surgem numa altura em que os preços na União Europeia batem máximos devido aos constrangimentos das cadeias de abastecimento e aos problemas no fornecimento energético, acentuados com as tensões geopolíticas da guerra da Ucrânia, desencadeada no final de fevereiro passado.
A inflação é, por estes dias, mais acentuada no que toca aos preços energéticos.
Devido à guerra, a União Europeia avançou já com pesadas sanções à Rússia, nomeadamente excluindo quatro bancos russos do mercado financeiro europeu e retirando sete grandes bancos russos do Swift, sistema que permite comunicações das transações financeiras internacionais.