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A chapada de Chris Smith

Não nos esqueçamos que é a vontade de atirar uma pedra ao outro que faz com que as guerras comecem

Ponto prévio – traduzindo do inglês para português, “will” significa vontade, determinação, querer, e “rock” quer dizer rocha, pedra ou, em caso de ser verbo, balancear.

Agora vamos ao que interessa:

O Chris é um actor e comediante norte-americano a quem coube apresentar a última edição da gala de atribuição dos Óscares.

O Smith é um actor, às vezes comediante, norte-americano a quem coube estar na plateia na última edição da gala de atribuição dos Óscares.

Como comediante que é, o Chris fez piada com quem estava na plateia, quase todos colegas de profissão. Como é normal nestas situações, as piadas em directo umas vezes saem bem, outras saem mal, mas eles são todos maiores e vacinados e lá vão aguentando um ou outro enxovalho público. Faz parte!

Mas na tal última edição da gala de atribuição dos Óscares, o Chris atirou uma piada, assim tipo “rock”, uma pedrada para um charco de vaidades, a ver o que vinha na onda. A onda trouxe de volta um Smith cheio de vontade (will, lembram-se?) de dar uma slampada no coitado do comediante. E, levantando-se do seu lugar, o Smith dirigiu-se ao palco e, …slammm, prega uma chapada no coitado do Chris que até pensava que tinha dito uma piada jeitosa!

“Já não se pode dizer uma piada”, pensou o Chris perante a vontade do Smith, que fez da mão uma pedra quando atingiu a cara do outro – o Smith encheu-se de will e pregou com uma rock no Chris.

A piada não teve uma graça por aí além, mas todas as redes sociais replicaram, de uma forma exponencial, o vídeo, o momento, e um ror de opiniões logo apareceram por tudo o que é canto, umas a favor, outras contra a chapada, que até nem foi coisa por aí além, mas que levanta um problema muito maior do que a chapada em si: a partir de agora, qualquer comediante está sujeito a levar com a mão virada na cara só porque disse uma piada que alguém não gostou.

Qualquer um de nós já teve essa vontade de pregar uma pedrada em quem achamos que nos tenha eventualmente ofendido, mas felizmente refreamos essa will (vontade, ok?), porque senão andaríamos todos à chapada e lá vamos engolindo os desaforos com que diariamente somos mimoseados. Passamos ao lado, porque é assim que deve ser.

Mas será? Não sei, não.

É que havendo vontade (a tal will dos ingleses) a tentação de, se encontramos uma pedra (a tal rock dos ingleses) ali à mão de semear, atirá-la é, obviamente grande. Mas como gente civilizada que somos (bem, a maioria), não o fazemos, antes arranjamos maneiras subtis de substituir a pedra por outas formas de fazer com que se cumpra a vontade

(não é para todos, essa capacidade, sendo que a maioria dos que a têm estão ligados à arte de captar votos).

Um exemplo recente: o nosso primeiro fez saber, isto é, disse, que a meio do mandato poderia almejar partir para outro lugar, assim, um lugar mais consentâneo com as suas capacidades europeias e, deixando o governo de cá, iria para um governo de lá, quer dizer, deixava o país órfão de primeiro-ministro. Mas, como sabemos, o nosso primeiro é um optimista por natureza, um gracejador nato, e disse o que disse por piada, só para chatear. Quem não gostou foi o Presidente e, na primeira oportunidade, calçou a luva de pelica, sim, porque isto de contacto pele com pele é coisa que um Presidente não faz, e dando uma de Smith,…slammm, prega uma chapada daquelas (figuradamente, é claro!) no nosso primeiro: “querias ir para a Europa, mas não vais que eu não deixo! Se fores, há eleições, logo, logo!”, deixando o nosso Chris de cara à banda sem saber o que responder.

Que vai responder, vai, mas mais tarde.

Isto é, quem tem vontade (will) de fazer como o Smith, há-de arranjar sempre um meio de ter uma pedra (rock) para atirar a um qualquer Chris que tenha dito uma graçola que o outro não gostou.

Não nos esqueçamos que é a vontade de atirar uma pedra ao outro que faz com que as guerras comecem e, como bem sabemos porque assim reza a História, conhecemos quando uma guerra começa, mas desconhecemos como acaba.

Viva a Ucrânia!

P.S. – Tanto o Chris como o Smith mencionados acima são cidadãos dos Estados Unidos da América “afro-americanos”.

Entretanto li, numa conceituada revista nacional (Visão), um post de um conceituado articulista nacional (B. Pires de Lima) referindo que “pela primeira vez uma mulher afro-americana foi nomeada para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América”.

Bravo! Além de Mulher, é afro-americana.

No mesmo artigo, a mesma pessoa questiona “quantos juízes negros já chegaram ao Tribunal Constitucional?” (o nosso, português).

Nos Estados Unidos da América o politicamente correcto fez com que os negros passassem a ser “afro-americanos”.

Por cá, os negros continuam a ser…negros!

A estupidez do “politicamente correcto”!