Avancem já com uma comissão de inquérito
Hoje foi dito, sem reparo, na Assembleia Legislativa da Madeira, que a comunicação está "toda ela manietada”
Boa noite!
Os políticos que ao abrigo das liberdades consagradas na Constituição dizem sem pensar o que lhes pesa na cabeça evidenciam preocupantes desequilíbrios. E como já ninguém tem pachorra para mover-lhes processos, de modo a que sejam obrigados a provar acusações infundadas, resta-lhes a travessia pela insignificância antes que se agigante a pena de descredibilização acrescida.
Hoje ouvimos o líder parlamentar socialista revelar preocupação pelo que vem aí, entendendo que o governo regional vai esconder os maus projectos que vai desenvolver com os milhões do PRR contando para tal com “a propaganda, com a informação controlada e com a comunicação toda ela manietada”.
Se o alvo indiscriminado é a comunicação social regional, Rui Caetano e restantes membros da bancada socialista, ou de qualquer outra sedenta de ajuste de contas, têm remédio. Dado o manifesto desejo de regresso ao passado, ordenem desde já uma comissão de inquérito parlamentar ao meio ou aos meios que tencionam abater – há um ex-deputado do PSD-M especialista nessa infeliz tentativa que pode dar um jeito como consultor; encham a Entidade Reguladora de queixas – basta perguntar à bancada do lado como se recorre a esse expediente previsto na lei; e acima de tudo dediquem-se à coerência, agindo em conformidade, sendo consequentes, embora não seja recomendável que se dediquem a ataques informáticos.
Se os que usaram da palavra e os que foram cúmplices do veredicto acham que o governo controla os jornais, rádios e televisão, como é que explicam os conteúdos jornalísticos que motivam amuos do poder, respostas repentistas e até ameaças pessoais? Se acham que estamos todos manietados como é que se atrevem a sugerir os exclusivos destinados a marcar a agenda e mendigam uma “chamadinha na primeira”? E já agora, numa lógica radical que tanto apreciam, porque é que não prescindem dos generosos espaços de opinião dos quais beneficiam com regularidade e que vos foram concedidos ao abrigo do que seria suposto ser um saudável pluralismo de ideias?
Há alguns que falam ainda de barriga farta e que arrotam considerações abusivas sobre os universos que não dominam porque julgam que o Facebook ou outra rede siamesa é quanto baste para garantir notoriedade, ‘likes’ e votos. Imaginem como não estarão dentro de meses quando, ao abrigo das Regionais de 2023, derem conta que precisam mais dos meios de comunicação pilar da democracia para continuarem sempre em pé do que as bengalas a que costumam recorrer sempre que estão em avançado estado de aflição.