HRW pede a Guterres que dê prioridade à situação dos civis em Mariupol
A organização Human Rights Watch (HRW) defendeu que o secretário-geral da ONU, António Guterres, que estará hoje em Moscovo e na quinta-feira em Kiev, deve dar prioridade à situação dos civis na cidade ucraniana de Mariupol.
"Depois de sobreviver a dois meses de terror, escondidos em caves enquanto a cidade foi transformada em cinzas e escombros, os civis ainda em Mariupol precisam urgentemente de assistência e corredores seguros de retirada", afirmou a diretora de crises e conflitos da HRW, Ida Sawyer, em comunicado hoje divulgado.
"O secretário-geral [da ONU, António] Guterres e outros líderes internacionais devem pressionar as principais autoridades russas para que garantam uma passagem segura [dos civis] para o território controlado pela Ucrânia", acrescentou.
Guterres visita hoje Moscovo e tem marcados encontros com o Presidente russo, Vladimir Putin, e com o chefe da diplomacia, Serguei Lavrov, no contexto da ofensiva russa em curso na Ucrânia.
Após a visita a Moscovo, Guterres irá ser recebido na quinta-feira, em Kiev, pelo chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky.
"Precisamos de passos urgentes para salvar vidas, pôr fim ao sofrimento humano e trazer paz à Ucrânia", considerou o secretário-geral das Nações Unidas, numa declaração publicada no sábado na rede social Twitter a propósito das deslocações.
Segundo referiu hoje a Human Rights Watch, as pessoas idosas, com deficiência, doentes ou feridas devem ser "alvo de atenção especial na retirada da cidade portuária de Mariupol", no sudeste da Ucrânia, ocupada pelas forças russas.
Por isso, pede a organização de defesa dos direitos humanos, António Guterres deve, no seu encontro de hoje com Putin, "sublinhar que os dirigentes russos podem ser responsabilizados por mortes ilegais de civis e outras graves violações do direito internacional humanitário".
"As forças russas têm de respeitar as suas obrigações de direito internacional humanitário e distinguir entre civis e combatentes, tomando todas as precauções possíveis para proteger os civis", alerta.
Segundo adianta a HRW, o número de civis ainda em Mariupol permanece incerto, sendo que as autoridades ucranianas apontam para 120.000 pessoas.
O cerco das forças russas àquela cidade começou no início de março e, atualmente, de acordo com as autoridades ucranianas, apenas resistem no complexo siderúrgico Azovstal alguns milhares de soldados ucranianos, cerca de 500 dos quais estão feridos. No local também se encontrarão à volta de 1.000 civis sem possibilidade de fugir.
"O número total de civis mortos em Mariupol também permanece desconhecido", sublinha a HRW, lembrando que as autoridades ucranianas estimam que 20.000 pessoas podem ter sido mortas na área desde o início da guerra.
Segundo a Ucrânia, as forças russas enterraram muitos dos mortos em duas valas comuns, uma em Manhush, a 20 quilómetros de Mariupol, e outra em Vynohradne, a 14 quilómetros da cidade.
"As imagens de satélite analisadas pela Human Rights Watch indicam que ambos os locais estão próximos dos cemitérios das aldeias", sendo que, "em Manhush, os sinais desta vala comum tornaram-se visíveis pela primeira vez em imagens de satélite [registadas] entre 23 e 26 de março, e em Vynohradne, entre 26 e 29 de março", afirma a organização, acrescentando que "ambos se expandiram dramaticamente nas últimas semanas".
A viagem de Guterres à Rússia acontece num momento em que o secretário-geral da ONU tem sido alvo de críticas pela sua alegada passividade em tomar medidas concretas para travar a guerra na Ucrânia.
Na semana passada, mais de 200 antigos dirigentes da ONU dirigiram uma carta a António Guterres, com um apelo para que seja mais proativo em relação a esse conflito.
Os signatários alertaram que, a menos que Guterres atue de forma mais pessoal para assumir a liderança na tentativa de mediar a paz na Ucrânia, as Nações Unidas arriscam não apenas a irrelevância, mas a sua existência continuada.
A Rússia lançou, na madrugada de 24 de Fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da Organização das Nações Unidas, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A guerra causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, das quais mais de 5,16 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.