ONU regista assassinato de 72 civis numa zona do Sudão do Sul desde Fevereiro
As Nações Unidas documentaram o assassinato de pelo menos 72 civis, cerca de 40 mil deslocados e crimes "horrendos", incluindo decapitações, violações em grupo e queima de pessoas vivas, desde fevereiro, num condado do norte do Sudão do Sul.
"Entre 17 de fevereiro e 07 de abril, cerca de 72 civis foram assassinados, pelo menos 11 feridos e registaram-se 64 casos de violência sexual, de acordo com equipas da Missão da ONU no Sudão do Sul, que realizou dez missões de verificação na área" do condado de Leer, lê-se num comunicado hoje divulgado pelas Nações Unidas e citado pela agência EFE.
A missão da ONU atribuiu a "jovens armados" dos condados vizinhos de Koch e Mayendit estes crimes, que incluem também ataques a pessoal de associações de ajuda humanitária, roubo de gado e saques a armazéns e instalações de assistência humanitária, que também foram incendiados.
"Relatórios preliminares do condado de Leer, situado no estado do Alto Nilo, indicam que cerca de 40 mil pessoas fugiram da violência, com milhares destas a cruzarem o rio Nilo rumo a Fangak, uma comunidade no estado de Jonglei", lê-se no comunicado.
A missão enviou mais capacetes azuis para Leer depois de conhecer os dados hoje divulgados, e o representante especial da ONU no país, Nicholas Haysom, instou as autoridades locais e nacionais a "tomarem medidas para reduzir a tensão e evitar uma escala e ataques de retaliação".
Entre os testemunhos recolhidos pelas Nações Unidas, estão os de duas mulheres que asseguram terem sido vítimas de violações em grupo, ao saírem dos esconderijos na selva para irem buscar comida para os filhos, e o de uma outra que contou ter sido violada e espancada durante três dias.
Na semana passada, a organização Médicos Sem Fronteiras já tinha denunciado que "dezenas de civis", entre os quais um dos seus funcionários, morreram nesses ataques.
O Sudão do Sul vive um conflito armado interno desde dezembro de 2013 (dois anos depois de se tornar independente do Sudão) e, desde então, embora em 2018 tenha sido firmado um acordo de Paz que ainda está a ser implementado, a violência causou dezenas de milhares de mortos e milhões de deslocados.