A propósito do 25 de Abril

Sobre a Revolução de Abril, nada a opor. Se bem que, já feita num profundo e visível declínio da ditadura, a Revolução surgiu e apressou o que já se desenhava. A queda do antigo Regime!

Um regime apodrecido por muitos anos de existência, fragilizado pela guerra do ultramar e que, apesar das mudanças de Marcelo Caetano, ao serem lentas e pouco profundas, não permitiam dar ao País a mudança que se impunha, com a rapidez que se desejava.

Por conseguinte, o regime político mantinha-se à data do 25 de Abril de 1974,se bem um pouco mais brando do que, por exemplo, nas décadas que o conhecemos de 50 ou 60.

Bom, mas chegou (e bem) o 25 de Abril e as imagens que ainda hoje podem ser vistas de todo um povo em alegria efusiva, em gritos de liberdade e a manifestar uma enorme esperança de que passariam a ter um novo Portugal, um País para todos, livre, justo e próspero, ilustram bem da vontade de um povo em mudar o paradigma do País que tinham.

Só que, o 25 de Abril, puro, honesto, livre, democrático, que, acreditamos, teria sido os sinceros desejos da maioria dos militares revolucionários não demoraria a ser traído não só por alguns militares do próprio “ 25 de Abril,” como por políticos ressabiados com o regime anterior que, em conjunto, arrastaram o País em pouco tempo para o caos político, social e financeiro e causando certa apreensão e desconfiança, não só nos países europeus, como nos EUA.

Estamos crentes que, se não fosse o 25 de Novembro de 1975, estaríamos, desde há muitos anos a comemorar um Abril à moda da liberdade de Cuba, Venezuela, Coreia do Norte e outros países de governos fantoches às ordens desse fulano que almeja ser o “dono disto tudo”.

De modo que, hoje, ao comemorarmos Abril, fazemo-lo pensando somente naquele bravo grupo de militares que de acordo com os seus puros ideais se bateram por uma mudança de regime do país que tinham, num outro melhor, mais livre, mais justo e mais próspero.

Muitos deles já faleceram e levaram certamente com eles a desilusão em que se transformou o seu esforço e a traição de alguns colegas que, por ingenuidade política ou ambições desmedidas, estavam a abrir caminho a nova ditadura porventura pior do que aquela que pouco tempo antes haviam eliminado.

O 25 de Abril, infelizmente, não tem hoje o significado que deveria ter, pois as suas principais virtudes, os seus principais princípios, foram desvirtuados, adulterados, miseravelmente desfeitos por grupelhos nascidos dentro e fora de alguns partidos políticos, hipocritamente designados por antifascistas e autoproclamados defensores do povo e dos trabalhadores.

Pena foi que, o 25 de Novembro de 1975, ao ter sido capaz de travar a ida do País de novo para uma ditadura, desta vez de esquerda e semelhante à então União Soviética, não conseguisse separar todo o trigo do joio, afastasse do campo de ação todo esse bando de marginais que à solta fizeram passar o Pais e o seu povo por meses e anos angustiantes.

Ainda assim, conseguiu dar uma imagem mais civilizada e democrática ao País, fazendo-o entrar na CEE, tábua de salvação de um Portugal de novo em declínio.

Porém, face às sementes da irresponsabilidade, do desatino e desgoverno então semeados, não lhe foi possível por fim (ainda) à corrupção, à leviandade (confundida com liberdade) e dar ao País uma justiça mais célere e mais justa, acabar com os oportunismos, com a injustiça social e com os nichos angustiantes de pobreza.

Portugal – sobretudo face às ajudas da Europa solidária e não só – teve tudo para estar melhor, estar diferente!

Juvenal Pereira