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Apoiantes de Le Pen "desiludidos com o povo francês" e alguns admitem deixar o país

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Os apoiantes de Marine Le Pen que se encontram no Pavilhão d'Armenonville, onde decorreu a noite eleitoral da candidata derrotada nas eleições presidenciais francesas, mostram-se "desiludidos com o povo francês" e alguns ponderam deixar o país.

Isabelle, de 42 anos, deslocou-se hoje da região de Pas-de-Calais, no norte de França, para poder assistir ao vivo à noite eleitoral de Marine Le Pen. Pouco depois de saber os resultados, mostra-se "profundamente desiludida com o povo francês".

"Acho que a França é um país onde as pessoas são hipócritas. Ou têm medo da mudança, ou então são verdadeiramente hipócritas: reivindicam imensas coisas, mas, quando é preciso agir, já cá não está ninguém. Não sei se é medo ou hipocrisia, mas há realmente uma exasperação que se sente, e depois ninguém, realmente, age", sublinha à Lusa.

Acompanhado da namorada, Jérémy, que se inscreveu na União Nacional em 2013 e tem atualmente 35 anos, também diz que está "desiludido" porque queria que a França "mudasse".

"Durante cinco anos, sofremos com Emmanuel Macron. Estou aqui com a minha namorada e temos medo de ter filhos, há uma grande insegurança. Foram cinco anos muito complicados -- com o confinamento, etc . -- e só espero que ele não faça pior nos próximos cinco", diz.

Mais do que desilusão, Brigitte, de 63 anos, tem sobretudo raiva. Antes do anúncio dos resultados, tinha dito à Lusa que estava confiante na vitória de Le Pen porque Macron tinha mostrado "as suas cores" nos últimos cinco anos. Agora, considera que houve fraude eleitoral.

"Para mim, houve aldrabice, não corresponde absolutamente nada ao que nós, enquanto militantes, experienciámos. Fomos muito bem recebidos em meios profissionais muito diferentes, por pessoas de todas as raças, de todos meios, não corresponde absolutamente nada a este resultado", frisa, antes de considerar que, segundo os seus cálculos, é impossível que Macron tenha tido mais de 20% ou 22% dos votos.

Com um percurso que passou pelo Partido Cristão Democrata (PCD) e pelo partido de centro-direita UMP quando foi liderado pelo antigo Presidente Nicolas Sarkozy, Brigitte diz que, depois de ter conhecido o resultado das eleições, o marido lhe pediu para irem viver para o estrangeiro.

"Eu acho que devíamos continuar, pelo menos até às próximas legislativas. Mas, sinceramente, acho que hoje foi a França que perdeu, e não a Marine", indica.

Valentin, de 22 anos, também está "muito desiludido" e "preocupado com o que vai acontecer nos próximos anos": "Questiono-me: será que o meu lugar é na França nos próximos anos? Porque, apesar de ser um patriota fervoroso, o Emmanuel Macron diz que não há cultura francesa".

Como o marido de Brigitte, também Valentin -- que é coordenador regional dos Jovens com Marine na região de Champagne-Ardennes, no nordeste de França -- está a equacionar deixar o país.

"É uma ideia em que vou pensar durante algum tempo. Após uma década com Macron no poder, acho que vai ser muito difícil conseguirmos levantarmo-nos. Por isso, acho que a ideia de ir para o estrangeiro é algo em que posso, de maneira legítima, pensar", sublinha.

Entre os convidados estrangeiros que se deslocaram até Paris para assistir à noite eleitoral de Marine Le Pen, está o eurodeputado alemão do partido AfD Gunnar Beck, que reconhece que o resultado da candidata de extrema-direita não é "naturalmente o que esperava".

"No entanto, temos que nos aperceber que pelo menos 43% dos eleitores se opõem muito claramente às políticas de Macron e também à direção para que se encaminha a União Europeia (UE). O meu grande medo é que as opiniões de quase metade dos eleitores de um dos maiores países europeus venha a ser ignorada", aponta.

Vice-presidente da família política europeia Identidade e Democracia (ID) -- de que também faz parte o Chega, que também contou com três membros presentes na noite eleitoral de Le Pen, entre os quais o diretor de relações internacionais do partido, Ricardo Regalla Dias --, Beck culpa o "sistema" pelo resultado.

"Não conseguimos alcançar o que queríamos, isso é verdade. Mas acho que há diferentes razões para isso, e essas razões não estão ligadas às nossas políticas, mas porque é difícil lutar contra toda a maquinaria do sistema. (...) Agora, temos de continuar o combate", sublinha.

O centrista Emmanuel Macron foi hoje reeleito Presidente de França, obtendo entre 57,6% e 58,20% dos votos na segunda volta das eleições, contra 41,80% e 43% de Marine le Pen, a candidata de extrema-direita, segundo as primeiras projeções.

Em 2017, a primeira vez que os dois se enfrentaram nas eleições presidenciais, o centrista Emmanuel Macron venceu com 66,10% dos votos, contra 33,90% de Marine le Pen, ou seja com uma vantagem significativamente mais clara do que nas eleições de hoje.