Países africanos lutam para conseguir alimentos e apelam por ajuda
Vários países africanos pediram hoje ajuda internacional ao relatarem estar a ser duramente atingidos económica e financeiramente pela guerra Ucrânia, principalmente nos preços dos combustíveis, comida e fertilizantes, num momento em que ainda padecem dos impactos da pandemia.
Numa conferência de imprensa virtual organizada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), os ministros das Finanças da Gâmbia, Malawi e Libéria deram um retrato da situação nos seus países e pediram menos restrições ao setor privado.
"Anteriormente estivemos aqui reunidos para discutir os impactos da covid-19 e agora temos os impactos da guerra na Ucrânia, fatores combinados que estão a afetar os países. Sentimos os impactos no preço dos combustíveis, comida, insumos agrícolas e dos fertilizantes. Estamos muito preocupados e apoiamos a liderança do Fundo para abordar essas preocupações", disse o ministro da Libéria, Samuel D. Tweah, acrescentando que os problemas da dívida também pesam sobre as nações africanas.
O ministro da Gâmbia, Mambury Njie, declarou que o seu país importa uma grande quantidade de trigo e fertilizantes da Ucrânia e perdeu cerca de 20% das suas receitas tentando subsidiar o preço dos fertilizantes.
Em relação a elementos básicos da alimentação, a Libéria iniciou negociações com importadores de arroz numa tentativa de garantir o abastecimento e a Gâmbia está a tentar tornar-se autossuficiente na produção desse grão.
Já o Malawi está a desencorajar o uso excessivo de óleo de cozinha por parte da população e a fazer planos para começar a produzir localmente em maiores quantidades.
Em resposta à Lusa, Samuel D. Tweah afirmou que a Libéria, tal como a Gâmbia e muitos outros países, está a perder receitas que ajudam a amortecer os impactos nos mais pobres.
"Talvez tenhamos que recorrer ao FMI e ao Banco Mundial para darmos um impulso nestes impactos de curto prazo (da guerra)", disse.
O governante saudou ainda o facto de o FMI ter aprovado a criação do chamado Fundo de Resiliência e Sustentabilidade para ajudar os países de baixos e médios rendimentos, com desafios de longo prazo, como os efeitos das alterações climáticas ou a preparação contra futuras pandemias.
Na conferência de imprensa, os governantes pediram ainda que a comunidade internacional redistribua aos africanos os seus direitos especiais de saque (SDR) - títulos conversíveis criados pelo FMI e alocados aos seus estados-membros, que podem gastá-los sem entrar em dívida; e o fim das restrições estruturais ao setor privado.
"Deixamos o setor privado para trás e (...) agora devemos focar-nos em saber como atrair fluxos financeiros privados e aumentar a participação do investimento público no setor privado da África", advogou o ministro da Libéria.
"Nós continuamos a argumentar que o desafio da dívida é realmente um desafio do setor privado, porque se os países não conseguirem crescer a uma certa taxa sustentável, não aumentarão as receitas para pagar a dívida. Então, vemos isso como um desafio do setor privado. As disfunções do setor privado, os desafios do crescimento, irão exacerbar a situação da dívida", frisou o Samuel D. Tweah.