Macron, o recandidato presidencial em busca de "refundar" o país
"Refundar" a França é o mote para o próximo mandato de Emmanuel Macron, que em 2017 se apresentou como candidato presidencial descomprometido com a vida política, mas que enfrenta agora críticas por falta de diálogo nos últimos cinco anos.
"Eu vou confessar-vos uma coisa: eu não tenho vontade nenhuma de fazer mais cinco ano de mandato. Eu não quero fazer mais cinco anos, eu quero cinco anos de refundação. O que se joga a 24 de abril não é apenas uma continuação, é uma reinvenção, uma nova ambição", disse Emmanuel Macron no seu comício de Marselha, no dia 16 de abril, na reta final para a segunda volta das eleições presidenciais, em que enfrenta a candidata da extrema-direita Marine Pe Len.
Chegado às eleições de 2017 com a imagem de um jovem desconhecido nos meandros políticos e figura independente, Macron volta a jogar a carta da refundação da República francesa para convencer o eleitorado a dar-lhe uma nova oportunidade, mas uma parte dos franceses que lhe deram um voto de confiança há cinco anos mostram-se agora relutantes.
Filho de médicos, Macron nasceu em 1977, em Amiens. Distinguindo-se desde jovem no campo das letras, o Presidente encontrou a atual mulher quando tinha 14 ou 15 anos e frequentava o ensino básico. Brigitte Macron, então Trogneux, era professora de teatro e tinha mais 24 anos que o seu aluno. A ligação levou a família do jovem Macron a retirá-lo da escola e a enviá-lo para o liceu Henri IV, em Paris.
Macron frequentou depois a Sciences Po, também em Paris, integrando a alta função pública francesa em 2004, após dois anos de formação em Estrasburgo. Em 2008, vira-se para o setor privado, trabalhando na banca de investimentos.
Antes de colaborar diretamente com François Hollande como secretário-geral adjunto do Eliseu a partir de 2012, Macron já contava com várias incursões na vida política, especialmente a nível local, a maior parte delas mal sucedidas. Foi com o ex-Presidente francês que o seu futuro começou a delinear-se, tendo sido nomeado ministro da Economia e das Finanças em 2014.
No final de 2016 surge como o candidato da "verdadeira indignação" e da renovação, face "às mesmas caras" da classe política desde "há 30 anos". Apresentou nessa altura um programa de inspiração social-liberal, que cumpriu em grande parte reformando o subsídio de desemprego e simplificando o regime de impostos para os privados e empresas ao vencer as eleições face a Marine Le Pen.
O seu mandato foi atravessado por diferentes crises políticas nacionais, internacionais e por uma pandemia global, dificultando a aplicação na integralidade das suas ideias, mas a sua determinação continua, nomeadamente na questão da reforma do sistema das pensões e o estabelecimento da idade da reforma aos 65 anos.
Alguns dias antes do início oficial da campanha, as ligações de Macron no setor privado vieram ensombrar a sua candidatura, com o Senado a publicar um relatório em que mostra que em 2021, o Governo francês terá gasto 900 milhões de euros com empresas de consultoria, com a empresa McKinsey a ter recebido entre 28 a 50 milhões de euros.
Ao ser eleito o Presidente mais jovem da quinta República, Macron começou o seu mandato com uma grande popularidade, mas diferentes episódios com frases menos felizes acabaram por afastá-lo dos franceses, criando a imagem de um Presidente alcunhado de 'Júpiter' por decidir sozinho e à volta do qual deve circular o país.
"Eu tenho culpa pela minha inaptidão. Às vezes quis ir demasiado depressa em determinadas reformas e as coisas só funcionam bem com debate", desculpou-se Macron numa entrevista em 2020.
Talvez seja tarde para um pedido de desculpas, já que apesar de os níveis do desemprego estarem no nível mais baixo dos últimos 20 anos e, em média, o poder de compra dos franceses ter subido, muitos eleitores vão às urnas no domingo com o lema "todos menos Macron" em mente.
Le Pen e Emmanuel Macron confrontam-se para a segunda volta das eleições presidenciais francesas no dia 24 de abril.