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Também na ajuda temos que saber partilhar

Em situações de crise todas as ajudas são fundamentais, mas só fazem sentido se estiverem integradas

No seguimento do artigo publicado no mês anterior é um facto que as notícias sobre a guerra na Ucrânia diminuíram significativamente o que parece relacionar-se com o facto da guerra em continuidade deixar de ter impacto mediático. As negociações e os factos atuais já não fazem notícia para manter o assunto ao minuto e manter as audiências ao rubro.

Falando da onda de solidariedade que se moveu durante esta fase de impacto inicial, e com tudo o que de positivo reveste o facto, é fundamental alertar para determinados aspetos, que por vezes, com o entusiasmos das correntes de apoio imediato não permitem olhar em consciência a realidade.

A vontade de todos quererem ser ativos e participativos, no apoio direto, faz com que determinados movimentos individuais, em nome da ajuda, coloquem em risco os mais vulneráveis. Infelizmente nem tudo é genuíno.

A identificação com a dor profunda de quem teve que abandonar a família, o trabalho, todos os bens, e em pânico fugir de uma guerra sem sentido humanitário, onde futuro é tudo menos certeza, leva a que muitas vezes o impulso para ajudar seja tão forte que não permita pensar mais além do que o presente. É ali, agora, que uns precisam e outros querem ajudar. É normal querer ser presente e disponível. Trazer para casa, cuidar, partilhar espaços e conforto.

Não é fácil, em momentos de crise profunda, pensar a ajuda a longo prazo com consciência do que tudo isso possa significar, mas quem chega, para além do conforto imediato de se sentir acolhido pelas diferentes manifestações de apoio, precisa de sentir que apesar de um futuro incerto existe um lugar possível de permanência que irá progressivamente ajudar na reconstrução de vida.

Ser solidário é também ser atento e informado, estar consciente de que o apoio e a ajuda é um ato de enorme responsabilidade com tempo indeterminado que carece de organização e segurança. Em situações de crise todas as ajudas são fundamentais, mas só fazem sentido se estiverem integradas na rede de apoios oficiais. Só assim quem precisa de apoio está realmente seguro. As organizações e serviços especializados estão credenciados e preparados para o efeito, sabem como ajudar e orientar a vontade e disponibilidade de todos os que querem colaborar.

Esta guerra está longe de terminar, e o facto de aos poucos deixar de estar no centro da informação vai esfumando, como tem acontecido com outros países massacrados pelas guerras territoriais, a responsabilidade social a longo prazo. Exigir do governo e dos grupos parlamentares medidas efetivas de apoio continuado ajustadas à realidade social do país é uma obrigação de cidadania e uma preciosa ajuda.

Precisamos uns dos outros e nunca se sabe de que lado um dia vamos estar. É muito bom perceber que não somos rejeitados e que há lugares onde somos aceites de verdade. O primeiro impacto é essencial para a saúde física, emocional e social mas com o tempo surgem necessidades mais práticas, abrangentes, que exigem mecanismos de suporte e gestão de continuidade para que a vida possa prosseguir com dignidade e direito a futuro.

Também na ajuda temos que saber partilhar.