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Pode o mal tornar-se banal?

Vivemos numa sociedade em que todos os dias tomamos conhecimento de mais atos de violência, como se a violência fizesse parte do nosso quotidiano. São os inúmeros casos de violência doméstica e das suas vítimas mortais, são os inúmeros casos de bullying, são as agressões nas saídas à noite (que deviam ser para as pessoas as pessoas se divertirem) com destaque para a morte de um polícia, foi o soco/bofetada durante a entrega de os Óscares e é a extrema violência na guerra da Rússia contra Ucrânia.

Em quase todos os casos existe quem tente justificar o agressor encontrando no comportamento do agredido alguma razão para desculpar a atitude do agressor. Para quem sofre de violência doméstica justificam que é porque a vítima tem comportamentos menos próprios ou respondeu inapropriadamente ou, simplesmente, não é submissa, para vítima de bullying procuram justificações para a atitude do agressor dizendo coisas tão sem sentido como “vestia roupas caras”, e assim sucessivamente.

No caso da invasão da Ucrânia, a Federação Russa sentiu-se ameaçada pela liberdade dos ucranianos escolherem o seu futuro. Para que tal não acontecesse era necessário dar-lhes uma lição para que não pensassem que são homens e mulheres livres e assim temos seguido, nas notícias, as atrocidades cometidas por um exército que não respeita as leis dos estados de direito nem da guerra e cujo objetivo é semear o terror. Temos presenciado, sentados nos nossos sofás, muitos dos atos bárbaros executados por militares que dão largas ao pior que o ser humano pode ser, como se nunca tivessem sido educados num sistema com valores nem soubessem o que a empatia significa. Porém, não são só estas atrocidades que chocam, mas também o silêncio de todos aqueles que vivendo na Federação Russa e sabendo da guerra por familiares dizem não acreditar que a guerra esteja a acontecer, preferindo acreditar que se trata de uma operação especial de libertação. Claro que na Federação Russa há também aqueles que, corajosamente, escolhem não ignorar o problema mesmo sabendo das leis draconianas para os condenar, como foi o caso de uma idosa, Yelena Ozipova, de 77 anos, ativista e artista, que foi detida pela polícia russa quando protestava contra a invasão da Ucrânia em S. Petersburgo juntamente com centenas de outros.

Felizmente os ucranianos têm conseguido resistir e não me parece que estejam a perder a guerra. Não são armas que têm recebido os ucranianos que têm feito escalar a guerra, mas é sobretudo o discurso da outra parte que desafia toda a racionalidade e leis da lógica para qualquer ponto de entendimento.

Conhecendo o número de ucranianos que morreram devido à Rússia em tempos de paz na altura da União soviética, não acredito que se os ucranianos tivessem se rendido logo, teriam menos mortos e barbaridade a lamentar. A História ensina-nos …

A questão que parece preocupar muitos comentadores televisivos é: “Qual vai ser a reação do Putin quando perceber que não ganhou a guerra?”, mas para a mim a grande questão é: “O que vai ser de nós, amantes da liberdade, se a Ucrânia perder esta guerra?”.