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Populares ao relento no perímetro do novo aeroporto de Luanda após demolições das suas residências

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Mais de 1.000 pessoas, entre crianças, adultos e idosos, queixam-se que estão há quase uma semana ao relento, na comuna de Bom Jesus, a 30 quilómetros de Luanda, após verem demolidas as suas residências "sem qualquer aviso das autoridades".

Os populares afetados contam que as demolições das suas residências, construídas na zona que circunda as obras de construção do Novo Aeroporto Internacional de Luanda (NAIL) decorreram na madrugada de sexta-feira e sábado passados.

As demolições, segundo disse hoje à Lusa Miguel Fernandes, um dos afetados e membro da comissão de moradores, estiveram a cargo alegadamente de efetivos da polícia nacional e das Forças Armadas Angolanas (FAA) e decorreram "debaixo de tiros".

"As demolições no quilómetro 38 foram na madrugada de sábado, mas a partir do quilómetro 36 começaram na madrugada de sexta-feira, muitas casas que foram demolidas até ao quilómetro 40, não tenho em mente quantas", disse o morador.

Os bairros em que as residências foram deitadas abaixo, que compreendem os quilómetros 36, 38, 40 e 44, fazem parte da comuna de Bom Jesus, município de Icolo e Bengo, um dos nove da capital angolana.

"Em princípio foi uma comissão que apareceu e marcou as residências que o GPL (Governo da Província de Luanda, iria demolir, e não demorou no segundo dia começaram as demolições com tiros das FAA e da polícia sem qualquer cadastramento", recordou.

A morar há quase 40 anos na localidade, Miguel Fernandes lamentou a condição de centenas de pessoas que continuam ao relento e sem qualquer informação dos órgãos da administração do município sobre o seu destino.

"Até hoje, a administração não diz nada, não conversa com o povo e continuamos ao relento, debaixo da chuva e não temos sítio onde ficar", lamentou.

Populares afetados esperam por realojamento, mas, realçou, "até agora não nos dizem nada".

Imagens que circulam nas redes sociais expõem os escombros de dezenas de casas demolidas no perímetro do NAIL e famílias ao relento com o pouco que lhes restou.

Questionado sobre o assunto, o ministro das Obras Públicas e Ordenamento do Território angolano, Manuel Tavares de Almeida, disse, na noite de terça-feira, que está em vista uma solução para compensar as famílias que viram as suas residências demolidas na zona do NAIL.

"Sim, o ministério lidera o projeto de realojamento, ali onde foi solicitado o NAIL, embora eu faça parte da comissão interministerial de acompanhamento deste aeroporto, este levantamento das pessoas que estão na área é parte da coordenação do projeto", disse, durante a quarta edição do Centro de Imprensa da Presidência da República de Angola (CaféCIPRA).

Manuel Tavares de Almeida assegurou igualmente que o realojamento vai abranger "apenas as pessoas cadastradas e que estão na circunscrição antes do início da construção" do NAIL.

O Presidente angolano, João Lourenço, visitou as obras de construção no NAIL, no passado dia 09 de abril de 2022, ocasião em que o ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, disse que as obras terminavam no primeiro trimestre de 2023 e que dos 1,2 mil milhões de euros financiados 40% já tinham sido executados.

As obras de construção do NAIL tiveram início em 2007 e o seu processo de certificação deve começar em junho próximo.