Crónicas

O futebol europeu, a NBA e a Formula 1

Os caminhos que têm usado para chegar até lá é que os diferencia e esse deve ser um ponto de reflexão para todos os agentes

Estes são 3 dos desportos (ou categorias) mais apaixonantes do mundo. Com milhões de fãs e seguidores um pouco por toda a parte, grandes espetáculos e produções televisivas e uma industria de merchandising que movimenta todos os anos muitos milhões. O que têm em comum todos eles é a necessidade de irem ao encontro dos espectadores, aumentando o interesse e a emoção dos seus produtos tornando-os mais rentáveis e emocionantes. Porque é a emoção que move o desporto, é a competitividade e a incerteza dos resultados que faz vibrar as plateias e que leva atrás delas muitos outros negócios adjacentes relacionados com o próprio turismo, a restauração, a hotelaria, o comércio e muitas outras áreas que se tentam colar à sua magia para comunicar e fazer passar mensagens. Os caminhos que têm usado para chegar até lá é que os diferencia e esse deve ser um ponto de reflexão para todos os agentes que os rodeiam mas também para todos nós, que seguimos com interesse e paixão a sua espetacularidade. Senão vejamos.

A NBA, uma competição americana de basquetebol, funciona num regime competitivo fechado, muito próprio, onde as equipas são franchisings que não sobem nem descem de divisão e se dividem por conferências. Abriu o seu espectro ao Canadá há uns anos com o objectivo de promover a liga e a fazer crescer noutros centros e conta neste momento com os Toronto Raptors. A liga tem regras muito próprias que tenta ao máximo equilibrar a competitividade entre as equipas, seja através de um teto salarial para cada uma delas ou através do chamado “draft” que é um evento anual onde podem ser recrutados jogadores que são elegíveis, podendo estes ser amadores oriundos do basquetebol universitário ou jogadores internacionais. As equipas com pior prestação no ano anterior têm o direito a ficar com as primeiras escolhas por forma a equilibrar os planteis, mas têm também o direito de ceder as suas escolhas em troca de jogadores de determinadas equipas. Todos os anos nos aparecem inovações para ir ao encontro do público que assiste, existindo em todos os pavilhões um autêntico espetáculo dentro do próprio jogo. Tudo para divertir quem paga o bilhete mas também para que quem assiste lá em casa fique colado à televisão. Não existem quebras de tempo, as equipas jogam praticamente de 2 ou de 3 em 3 dias e salvo raras excepções qualquer equipa pior classificada pode ganhar a uma outra porque os planteis são muito nivelados.

A Fórmula 1 com o desaparecimento de Ayrton Senna e posteriormente de Michael Schumacher perdeu parte dos seus seguidores e por isso teve que ir à procura de formulas que a tornassem mais apetecível, ao mesmo que tempo que os níveis de segurança foram aumentando. Da tentativa de desenvolver novas experiências para quem assiste, criando nos autódromos dinâmicas que promovem uma melhor visibilidade ou a aproximação do público aos seus corredores favoritos, todos os anos são introduzidas novas regras que aproximam as equipas umas das outras, nomeadamente o teto orçamental mas também a capacidade de criar sistemas que permitam ao carro que vai atrás ganhar velocidade para que possa ultrapassar o da frente. Estas novas mudanças alteraram profundamente o panorama do desporto automóvel e têm feito subir em flecha o numero de fãs. Hoje em dia é absolutamente espetacular assistir a uma corrida de fórmula 1, a forma como se pode ouvir na televisão a comunicação dos pilotos com as suas equipas ou a aproximação do valor dos próprios carros torna cada corrida um evento único, quase sempre discutido até ao fim, com verdadeiras batalhas ( no bom sentido ) pelas diversas posições.

E o que tem feito o futebol quanto a isto? Muito pouco. Sem ser o videoárbitro que foi introduzido a muito custo e que continua com imensas falhas, onde nem se pode saber o que dizem os árbitros uns aos outros sobre determinado lance, tudo o resto parou no tempo. Jogos com pouco tempo útil de jogo, jogadores que se mandam para o chão constantemente com o objectivo de o parar. Constantes discussões e altercações entre jogadores e equipas técnicas. Árbitros fracos, mal preparados e muitas vezes dando a nítida sensação de favorecimento a uma das equipas. Até para substituir um jogador o tempo pára, ao contrário de quase todos os outros desportos. Um jogador que sai não pode voltar a entrar. Continuo também sem perceber, uma vez que é a competitividade que está em causa, como pode um jogo digno desse nome, terminar empatado, em que ninguém vai satisfeito para casa. Eu sempre achei que nos desportos deve haver um vencedor e um digno derrotado. Mas há muito mais por onde pegar. As instituições que regem o desporto continuam a beneficiar os mais poderosos e a desequilibrar a balança. Os mecanismos de fair play financeiro são tímidos e caem todos em saco roto. Um magnata hoje em dia pode trazer o seu dinheiro, não se sabe de onde e desatar a comprar os melhores jogadores. Já para não falar do espetáculo que é proporcionado ao público que paga os bilhetes. Bancadas pejadas de jagunços e de gente mal comportada que afasta as próprias famílias do jogo por problemas de segurança, guerras constantes na televisão e nas redes sociais, folhetins que nada têm a ver com o próprio jogo em si e com a bola que entra ou bate na trave. Comentadores e mais comentadores discutem o “sexo dos anjos” e insultam-se muitas vezes em direto.

Acho que é tempo de as pessoas que rodeiam o futebol perceberem que ou trabalham rapidamente no sentido de o tornar mais competitivo, mais saudável e mais emocionante ou quando derem por isso serão um desporto do passado. Para isso as próprias instituições que tutelam o mesmo precisam de desenhar regras claras e rígidas para que tal aconteça senão vamos continuar a assistir a cenas tristes por esses campos fora e a uma desigualdade gritante que não é boa para a competição. Que comecem desde cedo, no desporto escolar a educar os miúdos e a trabalhar o futebol para que seja um desporto de homens e mulheres e não de bestas que se cospem, se agridem e se mandam constantemente para o chão.