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Ex-líderes Portas e Monteiro declaram apoio a Nuno Melo para presidir ao CDS

O candidato à liderança do CDS-PP e eurodeputado, Nuno Melo, acompanhado pelo antigo presidente do partido, Manuel Monteiro, durante o 29.º Congresso do partido, no pavilhão Multiusos de Guimarães. FOTO JOSÉ COELHO/LUSA
O candidato à liderança do CDS-PP e eurodeputado, Nuno Melo, acompanhado pelo antigo presidente do partido, Manuel Monteiro, durante o 29.º Congresso do partido, no pavilhão Multiusos de Guimarães. FOTO JOSÉ COELHO/LUSA

O antigo presidente do CDS-PP Paulo Portas apoia o eurodeputado Nuno Melo na candidatura à liderança do partido e vai marcar presença no 29.º Congresso no domingo. "Irei amanhã a Guimarães dar o meu voto a Nuno Melo e às suas listas", anunciou, através de uma nota enviada à comunicação social.

Paulo Portas, líder do CDS-PP entre 1998 e 2005 e depois entre 2007 e 2016, ressalvou que esta presença "não significa qualquer regresso à política partidaria ou às suas dialéticas" e constitui "um gesto devido numa circunstância excecional". "Desde que deixei a política ativa, nunca usei esse voto de inerência", afirmou. Na nota, Paulo Portas referiu igualmente que liderou o CDS-PP durante 16 anos e que sabe "bem que os resultados das últimas eleições colocaram o partido numa situação de muito risco". "Admiro a determinação de Nuno Melo em ser candidato num momento tão difícil. Em consciência, sinto que é meu dever, como antigo lider, dar lhe esse sinal de confiança", salientou.

Também o antigo presidente do CDS-PP Manuel Monteiro declarou hoje o seu apoio ao candidato à liderança Nuno Melo, considerando que é o eurodeputado que "está em melhores condições" para assumir o cargo. Numa intervenção perante o 29.º Congresso, Manuel Monteiro disse ainda estar "perfeitamente disponível" para ajudar o futuro do presidente, "sem cargos, sem qualquer estatuto" que não seja o de ter sido líder da Juventude Centrista e presidente do CDS-PP.

Monteiro, que não falava num Congresso do CDS há 20 anos, deixou ainda uma palavra de otimismo aos democratas-cristãos, que perderam representação parlamentar nas últimas legislativas. "Animemo-nos, ninguém desista!", apelou, perante uma sala cheia e que o aplaudiu por várias vezes durante os cerca de 30 minutos que durou a sua intervenção, muitas vezes de pé.

Num longo discurso programático, em que falou de Portugal, do Governo e do CDS-PP, Manuel Monteiro guardou para o fim as razões pelas quais apoiará Nuno Melo neste Congresso eletivo, apesar de um dos outros candidatos, Nuno Correia da Silva, até ter sido seu vice-presidente. "Creio que o partido deve serenamente pensar que os desafios que temos pela frente obrigam de uma forma serena e objetiva a percebermos que não é aquele de que alguns gostarão mais ou não, mas o que está em melhores condições de poder aceitar este desafio com a ajuda de todos", disse. E acrescentou: "Eu penso que o dr. Nuno Melo, sendo deputado europeu, tem essa possibilidade", afirmou, dizendo que o candidato à liderança o tem contactado para pedir opiniões em vários temas.

Manuel Monteiro, que invocou razões pessoais para abandonar o Congresso logo depois de intervir, reiterou que, mais importante do que mágoas passadas, será encontrar "quem tenha a capacidade de levar este desafio em frente". "O CDS teve ao longo da sua história figuras grandes, eu fui seguramente a mais pequena, mas tive a honra de crescer com os grandes. Aprendi que quando se é maior apenas porque estamos rodeados de pequenos, não vamos a lado nenhum", alertou. Admitindo que possa ter estado ligado a aspetos negativos da história do partido, Monteiro repetiu, por várias vezes, que "o importante não é como" o CDS chegou aqui, mas como conseguirá sair da situação em que se encontra.

Manuel Monteiro disse não esquecer que foi o ainda presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, que lhe entregou de novo o cartão de militante do partido - saiu em 2003 para fundar a Nova Democracia e só regressou em maio de 2020 -, mas admitiu que a atual direção "teve um resultado menos bom". "Estou perfeitamente disponível para ajudar o novo presidente do partido", assegurou, dizendo não querer cargos, mas deixando desde já algumas linhas de orientação para o partido no futuro

O antigo líder do CDS-PP entre 1992 e 1998 manifestou-se frontalmente contra qualquer processo de regionalização, criticou o que chamou de "regime ditatorial de quotas" de género e defendeu que o partido tem de denunciar que "o rei vai nu" no sistema educativo, criticando, por exemplo, a diminuição do número de anos necessários para uma licenciatura com o regime de Bolonha.

Manuel Monteiro deixou ainda uma palavra para os partidos parlamentares e uma mensagem de esperança para o CDS-PP. "O PS tem maioria absoluta, mas o PSD tarda em encontrar-se, o PCP e o BE são partidos políticos que procurarão através da agitação social o que não alcançaram eleitoralmente", considerou. Sobre o outro espetro parlamentar, Monteiro considerou que o PS "tenderá a valorizar e privilegiar o Chega e a IL porque sabe que é isso que convém à sua manutenção no poder para o futuro".

"Não é com discursos fantasistas de uns senhores que se arvoram as palavras em defesa de valores tradicionais de Portugal, mas à primeira oportunidade dão a mão e contratam pessoas que defendem o contrário", disse, numa crítica aparente à contratação da antiga assessora do PAN Cristina Rodrigues pelo partido Chega. Por outro lado, disse também que o CDS "não tem de ter medo dos liberais de pacotilha": "Não recebemos lições de moral de liberais que vivem à conta de orçamentos de Câmaras Municipais e do Orçamento do Estado", afirmou, sem concretizar. "Significa que, por muito mau que seja [o CDS não ter representação parlamentar], temos todas as condições, mesmo fora do parlamento para liderar a oposição a António Costa e ao PS. Basta querê-lo, basta sabê-lo, basta ter essa vontade", numa das passagens mais aplaudidas da sua longa intervenção. Monteiro aproveitou para recuperar algumas das bandeiras de quando era líder do CDS-PP. "Quando dissemos a Portugal e aos portugueses que era um erro o país abandonar a sua capacidade produtiva, o país viver de mão estendida aos subsídios para abater a sua frota pesqueira, que era um erro abandonar a lavoura (...) não nos quiseram ouvir e hoje o país enfrenta um sério problema de soberania", considerou.