Mundo

Independentistas catalães espiados com programas informáticos israelitas

None

Os telefones de dúzias de apoiantes da independência da Catalunha, incluindo o do chefe do governo autónomo e outros dirigentes eleitos, foram espiados com um programa acessível apenas a governos, assegurou hoje uma organização de direitos cívicos na cibersegurança.

O grupo Citizens Lab, relacionado com a Universidade de Toronto, revelou que foi feita uma investigação em grande escala, em colaboração com grupos da sociedade civil catalã, que apurou que pelo menos 65 pessoas foram atingidas pelo que designou de 'spyware mercenário", vendido por duas empresas israelitas, a NSO Group e a Candiru.

Os esforços da Catalunha para se separar da Espanha têm sido desde há muito um espinho nos governos de Madrid.

O programa informático Pegasus, da NSO, tem sido usado em todo o mundo para espiar telefones e computadores de políticos, defensores de direitos humanos, jornalistas e até membros da Igreja católica.

A firma tem sido sujeita a limites de exportação pelo governo dos EUA, que a acusou de fazer "repressão transnacional". A NSO também já foi processada pelas principais empresas tecnológicas.

A Citizens Lab especificou que a sua investigação ao uso em Espanha do Pegasus e de programas informáticos desenvolvidos pela Candiru --- outra empresa israelita, fundada por antigos empregados da NSO -- começou em meados de 2020, depois de vários casos de espionagem aos principais defensores da independência catalã terem sido revelados.

O grupo adiantou que não possui provas conclusivas que lhe permitam atribuir a ação de pirataria a uma entidade específica.

"Porém, uma série de provas circunstanciais apontam para um forte nexo com uma ou mais entidades dentro do governo de Espanha", avançou o Citizens Lab, no seu sítio.

O ministro do Interior disse, por seu lado, que nenhum departamento ministerial nem os corpos da Polícia Nacional ou da Guarda Civil teve relações com a NSO".

Entre os espiados estiveram pelo menos três deputados catalães, eleitos por partido separatistas, membros de dois relevantes grupos da sociedade civil pró-independência, os seus advogados e dirigentes eleitos em vários níveis, incluindo três antigos presidente da Generalitat (governo da autonomia), entre os quais Quim Torra.

O atual presidente da Generalitat, Pere Aragonès, cujo telefone também foi pirateado, segundo o Citizens Lab, quando era vice de Torra, no mandato 2018-2020, disse que "a operação de espionagem massiva contra os independentistas catalães era uma vergonha sem justificação, um ataque à democracia e aos direitos fundamentais".

Em várias mensagens colocadas na rede social Twitter, Aragonès disse que, uma vez que o programa informático só pode ser adquirido por entidades governamentais, o governo de Madrid tem de dar explicações.

"Não há desculpas. Espiar representantes dos cidadãos, advogados ou ativistas dos direitos cívicos, é uma linha vermelha", escreveu.